terça-feira, 28 de agosto de 2007

O Injustiçado Palavrão

Desde que nos conhecemos por gente, desde que aprendemos a dizer nossas primeiras palavras, nos acostumamos a ouvir sempre alguém lançar a advertência: “Não fala palavrão, menino! Palavrão é feio!”

Quantos beliscões, broncas, tabefes ou puxões de orelha você já levou simplesmente por balbuciar um inocente “Porra!”?

Isso é uma extrema e infundada injustiça. Afinal de contas, o palavrão é a mais sincera e genuína expressão da emoção humana. Um pequeno teste pode comprovar isso:

Você se matou fazendo um trabalho que, ao terminar, ao seu jugo, ficou sensacional, algo inacreditável, que você mesmo duvidava que fosse capaz de fazer. No seu mais profundo âmago, o que você diz (sinceramente) pra você mesmo?
( ) Puxa vida! Ficou o máximo!
( ) Puta que pariu! Ficou do caralho!

Ou então, ao mostrar esse mesmo trabalho para o seu chefe ou para algum colega, o que você prefere ouvir?
( ) Puxa vida! Ficou o máximo!
( ) Puta que pariu! Ficou do caralho!

Bastante óbvio, não?

E quando o seu time está empatando a final do campeonato brasileiro com o seu maior rival, que precisa do empate pra ser campeão, e, no último do segundo tempo, o juiz marca um pênalti pro adversário (Aí já vale um “Ladrão filho da puta”, mas prossigamos com o raciocínio). Eles batem, o goleiro defende e, no contragolpe, um bate-e-rebate desgraçado dentro da área e aquele volantão grosso e raçudo, de canela, empurra a bola pra dentro do gol. Qual a sua reação? Você se levanta calmamente, coloca o corpo em posição ereta e aplaude de forma chique enquanto exclama “Explêndido!” ou dá um salto destrambelhado e berra pra quem quiser ouvir “Porra! Caralho! Puta Golaço! Chupa Bambi!” e mais uma dezena de impropérios?

Em outra situação, quando você, andando de chinelo pelo calçadão da praia, dá aquela topada em uma pedra, nada mais justo que dar um salto descontrolado e gritar “Merda!” ou qualquer outra lista de palavrões dos mais populares. Em trinta segundos você descarregou a raiva e a dor se dissipou, quase num ato de descarrego. Muito mais útil que ficar parado e deixar aquilo consumir sua alma.

O pior é ver na TV, em programas de alto grau de realismo, como ‘Malhação’ (pfffff!), as mais variadas formas de se camuflar um palavrão. Quando um vilão apronta uma e, literalmente, fode com a vida do mocinho, o que seria mais genuíno dizer: “Você ainda vai se dar mal, seu maldito!” ou “Você ainda vai se fuder, seu filho da puta!”?

Aliás, se realismo fosse o forte das novelas ou da maioria das produções falso-moralistas de TV brasileira, em vez de jovens tomando açaí e indo malhar depois da faculdade, veríamos o pessoal enchendo a cara no bar mais próximo e depois caindo na gandaia.

Por outro lado, se você respeita o direito do homem em dizer algo como "Caralho! Que dia lindo?" ao amanhecer, mas é partidário de que não se deve ensinar palavrões às crianças, pense muito bem. Se, por um acaso, na escola, um grupo de merdinhas abusados xingá-lo de tudo quanto é nome bem filho da puta, e ele, por não saber palavrão, solta um inocente “Cara de pinico!”, aí sim ele vai virar motivo de chacota pro resto da vida. Mas se ele responder com uma seqüência de impropérios capaz de fazer Howard Stern ou Dercy Gonçalves enrubescerem, ele vai ser eternamente respeitado.

Ou seja, além de ser a mais genuína expressão humana, nesse caso, um bom palavrão pode ser um instrumento extremamente eficiente de defesa pessoal.

Como deu pra perceber, as palavras conhecidas como palavrões, quando bem executadas, não são apenas a expressão mais singela da alma humana, mas também um excelente instrumento de coerção e intimidação. Por isso, minha gente, se você quer um mundo mais justo, que as pessoas expressem seu sentimento, sejam mais sinceras umas com as outras e sem um pingo de falso-moralismo, defendam o direito do ser humano em falar palavrão.

Se ainda assim, mesmo com tão nobre intuito, alguém tiver coragem de te criticar por isso, é só erguer o dedo médio e mandar pra puta que pariu.

6 comentários:

Anônimo disse...

puts...

Unknown disse...

Você é um excelente defensor do palavrão! Depois desse post,confesso que mesmo não sendo adepta de tal comportamento,vendo por esse ângulo fica mesmo impossível não dar uma palavrãozinho vez por outra.

Gostei bastante!!!

Fica bem e excelente final de semana!

P.S:Depois me ensina esse negócio de feeds?Obrigada!

Junkie Vatapá

Jones C. disse...

Explêndido!

Seu texto ficou muito foda, parabéns! Ou melhor, do caralho!

Forte abraço!

Jones

Anônimo disse...

Nossa, quando escuto um palavrão me arrepio. Não tenho o costume de falar, mas ouço muito por trabalhar em escola pública. Acho que já vivemos em uma sociedade de valores invertidos, desigualdade social, etc., e sermos desbocados pesa mais ainda o nosso dia.
Aline

Anônimo disse...

Bem, bem!
Eis que encontrei o famoso texto em defesa do oprimido palavrão.
Oprimido nada. Abandeirado e louvado...hehehe...Ei, eu tb sou adepta da filosofia que falar palavrão é terapêutico, mas só repugno o ABUSO descontextualizado deles nos filmes brasileiros...no mais, até um padre ou um santo já falou um palavrão...
hasuhuahsu

abçs,

Luca

Anônimo disse...

sinceramente, acredito que os palavrões são utéis em momentos apropriados, como os que você sugeriu.
O que não dá é generalizar para toda e qualquer situação.

No casamento:
PADRE: Vc, noivo, aceita a noiva como sua esposa?
NOIVO: porra, essa mulher é foda! Eu a amo! aceito sim!
PADRE: eu vos declaro marido e mulher, podem se foder por toda a vida!

Existem aqueles que se incomodam com o uso desenfreado dessas palavras pequenas com forte peso de injúria. E também, tudo em demasia fica enjoativo...
chega de caralho de merda de palavrão!
MISSINGA!