segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Elementar...

Que Watson era o fiel escudeiro do aclamado detetive Sherlock Holmes, todo mundo sabe. Mas ao contrario da versão que certamente chegou aos seus ouvidos (no caso de você ter ouvido alguma das suas fantásticas aventuras num livro-cd), ele definitivamente não era o seu assistente. Na verdade, Watson era seu cachorro. Um autêntico bull terrier com pedigree e um irrepreensível ‘british accent’.

Uma prova concreta encontrada por agentes da Scotland Yard reforça ainda mais essa tese, mostrando que até o bordão mais famoso de Sr. Holmes – e que envolve seu suposto ajudante – apresenta sinais de deturpação.

Entre documentos encontrados na região de Windlesham, na Inglaterra, onde Sir Arthur Conan Doyle foi enterrado, destaca-se um manuscrito feito a mão – daí o nome manuscrito, porque foi escrito manualmente, o que significa literalmente “com a mão”. Se bem que ele deve ter usado uma caneta ou uma pena, que ainda era comum naqueles tempos, senão ia virar pintura de dedo. Seguindo essa linha de pensamento, deveríamos chamar canetuscrito ou penuscrito, mas aí já é pegar pesado demais.

Esse manuscrito foi redigido pelas próprias mãos (não, não vou começar de novo) de Conan Doyle e contém um fato perturbador.

Para não restar uma dúvida sequer sobre a autenticidade do documento, veja você mesmo a reprodução de parte do texto saído das mãos (pode ficar tranqüilo, não vai acontecer outra vez) do criador do maior detetive do mundo – traduzida com riqueza de detalhes nas linhas a seguir – e tire suas próprias conclusões:

“Certo dia, Sherlock voltava para casa com um imenso saco de ração canina quando foi interpelado por um vizinho invejoso e futriqueiro:
- O que cê vai fazer com tudo isso, hein sêo Xerlóque?

Sem pensar muito, ele respondeu:
- Alimentar meu caro Watson...”

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O direito de ser anormal

O que você acha disso ou daquilo? Pouco me importa!

O interessante em tudo é que as coisas nem sempre são exatamente do jeito que parecem. Aliás, isso quase nunca acontece, o que não deixa de ser normal. Ou melhor, comum. Porque a acepção que damos à palavra normal não deveria nem existir, já que, na prática não existem pessoas normais ou não. O que existe na verdade são padrões de comportamentos para a boa convivência em nível social que costumam ser seguidos para se conquistar a desejada aceitação. Esse é o bom e velho senso comum, mas nada disso significa que, no âmago dos seus seres, as pessoas mantenham esse mesmo padrão aceito socialmente nos seus pensamentos internos ou nos seus anseios mais íntimos.

Afinal de contas, o que é ser normal?

Fazer tudo como diz uma certa regra que não sei quem disse que é correto sem precisar nem questionar a real motivação ou intenção de tudo isso?

Não. Isso não é ser normal e muito menos um anormal. É simplesmente ser escravo de um tirano que nem se sabe direito quem é. E o pior: ele vive dentro de você.

O entendimento comum diz que normal é o oposto de louco. Nesse caso ‘normal’ seria o mesmo que ‘são’. Mas para ser normal, dentro dos parâmetros da nossa sociedade superficial e hipócrita é negar os mais profundos instintos da natureza humana, acarretando milhares e milhares de problemas, que geram isso, aquilo e leva o mundo a essa infindável sensação de desnorteio, de dúvida, de indecisão, de estar cada dia mais perdido, de sintomas psicóticos...

Ser normal é ser são? Prefiro pensar que se permitir certas loucuras é o passe livre pra verdadeira sanidade, só que essa palavra acaba virando uma grande limitação. É só analisar a complexidade da realidade que, de um ponto de vista conservador, pode ser considerada meio insana.

Por isso, todos os dias depois que acordar, olhe-se no espelho e, com um sorriso de orelha a orelha, brade bem forte: “Eu sou um anormal!” Por mais que sua vizinha de 75 anos diga “Deus me livre e guarde” ao ouvir seu grito às 7 da matina, você vai começar a se livrar desses pré-conceitos que aprisionaram a mente dessa sua mesma vizinha, fazendo-a achar tudo que é novo, diferente e fora dos padrões é simplesmente “horrrrrrível” (a acentuação do ‘r’ é uma necessidade no linguajar geriátrico).

Está na hora de se quebrar os velhos paradigmas. Está na hora de reconhecer o ponto de mutação e ser verdadeiramente livre.

Mas que diabos ser livre realmente quer dizer?

Livre não é aquele que se enquadra a todas as normas impostas pela sociedade. Livre é aquele que sabe conviver com tudo isso, caminhando harmoniosamente entre os dois extremos sem vê-los como opostos, mas como partes complementares da mesma coisa, e ainda ter plena consciência da sua individualidade.

Ainda estamos andando aos trupicões em busca desse objetivo, mas como diria o velho lobo Zagallo, “nós vamos chegar lá”.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Fobia, oportunismo ou pura vocação?

Em meio às loucuras desse mundo moderno, com papai e mamãe tendo que trabalhar fora em horário integral para garantir o leitinho das crianças, Zezinho passava a maior parte do tempo com sua querida vovó, a Dona Ermelina.

Ermelina era uma daquelas avós tradicionais, igual àquela que se via nos pacotes de farinha Dona Benta ou no logotipo da Casa do Pão de Queijo. Se por um lado fazia todas as vontades do neto, liberando chocolates e guloseimas antes do almoço ou da janta, Dona Ermelina também era uma superprotetora radical. Só fazia vista grossa para algumas travessuras por causa da já avançada catarata. Seria esse o motivo do excesso de zelo pelos olhos do seu menino dos olhos? Veremos...

Aos 5 anos de idade, logo após o programa do Bozo, Zezinho virou-se para Dona Ermelina e disse:
- Vovó, vovó! Quando eu crescer, quero ser bombeiro!
- Ai, meu netinho! Imagina se cê ta lá no alto daquela escadona apagando um incêndio, escapa uma fagulha e pega no olho? Um perigo! - retrucou a avó.
Cabisbaixo, o pobre garoto desistia do seu primeiro grande sonho.

Quando completou 10 anos, Zezinho já era convictamente um Palmerista – o mesmo que palmeirense, segundo o dialeto ítalo-geriátrico de Dona Ermelina – quando ficou maravilhado no dia em que o centroavante do time teve que substituir o goleiro machucado e acabou defendendo dois pênaltis. Completamente extasiado, cutucou a avó e atestou:
- Já sei o que vou ser quando crescer, vovó! Goleiro do Palestra!
- Ai, Zezinho! Não me faça uma coisa dessa! Vou até bater treis veiz na madeira, mas imagina se cê ta lá no gol, vem aquele tirambaço, cê não consegue agarrá com as mão e a bola pega no olho? Deus me livre e guarde, viu? - respondeu ela.

Os anos foram passando, tanto é que Dona Ermelina já tinha batido as botas há tempos quando Zezinho tornou-se um renomado oftalmologista. O curioso é que mesmo com uma leve hipermetropia, ele nunca teve coragem de usar óculos. Também, não é para menos. Imagina se a lente quebra, estilhaça e pega no olho?

* Agradecimentos ao ‘camagada’ Roman Ciupka Jr. Foram as conversas em idioma idoso no trajeto casa-trabalho que inspiraram esta pequena historieta.