sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A Grande Virtude

O que dizer quando não se quer dizer absolutamente nada? Ainda mais quando não se tem muito o que falar. Sobra aquela inquietação, a cabeça coçando por dentro tão insuportavelmente... Ainda mais insuportável por não ter um indicador interno com uma unha bem grande e pontiaguda para machucar com vontade até arrancar a casquinha.

Pelo menos a longínquos milênios, abençoados e iluminados seres humanos inventaram algo que hoje conhecemos como linguagem, que evoluiu, gerando aqueles desenhos de parede de caverna que, depois de muito treino, se tornou escrita. Aí vieram pergaminhos, as peles de carneiro, as penas, os tinteiros, a caneta, a máquina de escrever, a famosa máquina de imprensa inventada por algum alemão bêbado de tão entediado que estava de escrever centenas de vezes a mesma coisa. Ou mandar alguém fazer isso e ficar muito puto quando os pau mandados escreviam alguma merda nesse meio tempo.

Depois daí, degringolou de vez. Alguém saído de ‘A Vingança dos Nerds’ resolveu passar Superbonder na máquina de escrever e colar na TV. Depois outro débil mental que provavelmente era fã de ‘Jornada nas Estrelas’ e vivia na garagem da casa dos pais com quase 30 anos de idade ligou tudo isso no telefone, juntando um monte de desocupado sem ter absolutamente nada pra fazer. O resultado disso é isso agora que você está lendo no que algum cara com as mesmas características psicológicas dos supracitados resolveu criar pra espalhar ainda mais besteira por essa rede (pra quem não sabe, tô citando o criador desse negócio que hoje chamamos de blog). Ok, confesso. Depois de cansar de resistir ao fluxo da nova era, entrei também nessa onda.

Tudo isso pra quê? Pra expressar aquilo que sentimos por dentro dos nossos âmagos mais profundos, mas jamais conseguimos e nunca conseguiremos traduzir a essência em palavras. E pensar que algumas pessoas que sabiam das coisas foram mal-interpretadas acabaram pregadas em uma espécie de X com uma perna alongada e inclinada em 45º. Pior: os responsáveis por divulgar esse legado ou não entenderam nadica de nada daquilo que o primeiro hippie da humanidade tentou mostrar ou simplesmente adulteraram tudo por livre e espontâneo interesse pessoal.

Assim caminha a humanidade. Ninguém mandou prestar atenção justamente no dedo em vez de se atentar para o satélite natural da Terra quando um sábio mestre apontou a Lua. Olha lá que resta pouquíssimo tempo pra mudar o foco e salvar o mundo.

Conversa pra boi dormir? Senhoras e senhores, eis a grande virtude.

Por isso mesmo, se não penso, logo insisto.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Elementar...

Que Watson era o fiel escudeiro do aclamado detetive Sherlock Holmes, todo mundo sabe. Mas ao contrario da versão que certamente chegou aos seus ouvidos (no caso de você ter ouvido alguma das suas fantásticas aventuras num livro-cd), ele definitivamente não era o seu assistente. Na verdade, Watson era seu cachorro. Um autêntico bull terrier com pedigree e um irrepreensível ‘british accent’.

Uma prova concreta encontrada por agentes da Scotland Yard reforça ainda mais essa tese, mostrando que até o bordão mais famoso de Sr. Holmes – e que envolve seu suposto ajudante – apresenta sinais de deturpação.

Entre documentos encontrados na região de Windlesham, na Inglaterra, onde Sir Arthur Conan Doyle foi enterrado, destaca-se um manuscrito feito a mão – daí o nome manuscrito, porque foi escrito manualmente, o que significa literalmente “com a mão”. Se bem que ele deve ter usado uma caneta ou uma pena, que ainda era comum naqueles tempos, senão ia virar pintura de dedo. Seguindo essa linha de pensamento, deveríamos chamar canetuscrito ou penuscrito, mas aí já é pegar pesado demais.

Esse manuscrito foi redigido pelas próprias mãos (não, não vou começar de novo) de Conan Doyle e contém um fato perturbador.

Para não restar uma dúvida sequer sobre a autenticidade do documento, veja você mesmo a reprodução de parte do texto saído das mãos (pode ficar tranqüilo, não vai acontecer outra vez) do criador do maior detetive do mundo – traduzida com riqueza de detalhes nas linhas a seguir – e tire suas próprias conclusões:

“Certo dia, Sherlock voltava para casa com um imenso saco de ração canina quando foi interpelado por um vizinho invejoso e futriqueiro:
- O que cê vai fazer com tudo isso, hein sêo Xerlóque?

Sem pensar muito, ele respondeu:
- Alimentar meu caro Watson...”

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O direito de ser anormal

O que você acha disso ou daquilo? Pouco me importa!

O interessante em tudo é que as coisas nem sempre são exatamente do jeito que parecem. Aliás, isso quase nunca acontece, o que não deixa de ser normal. Ou melhor, comum. Porque a acepção que damos à palavra normal não deveria nem existir, já que, na prática não existem pessoas normais ou não. O que existe na verdade são padrões de comportamentos para a boa convivência em nível social que costumam ser seguidos para se conquistar a desejada aceitação. Esse é o bom e velho senso comum, mas nada disso significa que, no âmago dos seus seres, as pessoas mantenham esse mesmo padrão aceito socialmente nos seus pensamentos internos ou nos seus anseios mais íntimos.

Afinal de contas, o que é ser normal?

Fazer tudo como diz uma certa regra que não sei quem disse que é correto sem precisar nem questionar a real motivação ou intenção de tudo isso?

Não. Isso não é ser normal e muito menos um anormal. É simplesmente ser escravo de um tirano que nem se sabe direito quem é. E o pior: ele vive dentro de você.

O entendimento comum diz que normal é o oposto de louco. Nesse caso ‘normal’ seria o mesmo que ‘são’. Mas para ser normal, dentro dos parâmetros da nossa sociedade superficial e hipócrita é negar os mais profundos instintos da natureza humana, acarretando milhares e milhares de problemas, que geram isso, aquilo e leva o mundo a essa infindável sensação de desnorteio, de dúvida, de indecisão, de estar cada dia mais perdido, de sintomas psicóticos...

Ser normal é ser são? Prefiro pensar que se permitir certas loucuras é o passe livre pra verdadeira sanidade, só que essa palavra acaba virando uma grande limitação. É só analisar a complexidade da realidade que, de um ponto de vista conservador, pode ser considerada meio insana.

Por isso, todos os dias depois que acordar, olhe-se no espelho e, com um sorriso de orelha a orelha, brade bem forte: “Eu sou um anormal!” Por mais que sua vizinha de 75 anos diga “Deus me livre e guarde” ao ouvir seu grito às 7 da matina, você vai começar a se livrar desses pré-conceitos que aprisionaram a mente dessa sua mesma vizinha, fazendo-a achar tudo que é novo, diferente e fora dos padrões é simplesmente “horrrrrrível” (a acentuação do ‘r’ é uma necessidade no linguajar geriátrico).

Está na hora de se quebrar os velhos paradigmas. Está na hora de reconhecer o ponto de mutação e ser verdadeiramente livre.

Mas que diabos ser livre realmente quer dizer?

Livre não é aquele que se enquadra a todas as normas impostas pela sociedade. Livre é aquele que sabe conviver com tudo isso, caminhando harmoniosamente entre os dois extremos sem vê-los como opostos, mas como partes complementares da mesma coisa, e ainda ter plena consciência da sua individualidade.

Ainda estamos andando aos trupicões em busca desse objetivo, mas como diria o velho lobo Zagallo, “nós vamos chegar lá”.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Fobia, oportunismo ou pura vocação?

Em meio às loucuras desse mundo moderno, com papai e mamãe tendo que trabalhar fora em horário integral para garantir o leitinho das crianças, Zezinho passava a maior parte do tempo com sua querida vovó, a Dona Ermelina.

Ermelina era uma daquelas avós tradicionais, igual àquela que se via nos pacotes de farinha Dona Benta ou no logotipo da Casa do Pão de Queijo. Se por um lado fazia todas as vontades do neto, liberando chocolates e guloseimas antes do almoço ou da janta, Dona Ermelina também era uma superprotetora radical. Só fazia vista grossa para algumas travessuras por causa da já avançada catarata. Seria esse o motivo do excesso de zelo pelos olhos do seu menino dos olhos? Veremos...

Aos 5 anos de idade, logo após o programa do Bozo, Zezinho virou-se para Dona Ermelina e disse:
- Vovó, vovó! Quando eu crescer, quero ser bombeiro!
- Ai, meu netinho! Imagina se cê ta lá no alto daquela escadona apagando um incêndio, escapa uma fagulha e pega no olho? Um perigo! - retrucou a avó.
Cabisbaixo, o pobre garoto desistia do seu primeiro grande sonho.

Quando completou 10 anos, Zezinho já era convictamente um Palmerista – o mesmo que palmeirense, segundo o dialeto ítalo-geriátrico de Dona Ermelina – quando ficou maravilhado no dia em que o centroavante do time teve que substituir o goleiro machucado e acabou defendendo dois pênaltis. Completamente extasiado, cutucou a avó e atestou:
- Já sei o que vou ser quando crescer, vovó! Goleiro do Palestra!
- Ai, Zezinho! Não me faça uma coisa dessa! Vou até bater treis veiz na madeira, mas imagina se cê ta lá no gol, vem aquele tirambaço, cê não consegue agarrá com as mão e a bola pega no olho? Deus me livre e guarde, viu? - respondeu ela.

Os anos foram passando, tanto é que Dona Ermelina já tinha batido as botas há tempos quando Zezinho tornou-se um renomado oftalmologista. O curioso é que mesmo com uma leve hipermetropia, ele nunca teve coragem de usar óculos. Também, não é para menos. Imagina se a lente quebra, estilhaça e pega no olho?

* Agradecimentos ao ‘camagada’ Roman Ciupka Jr. Foram as conversas em idioma idoso no trajeto casa-trabalho que inspiraram esta pequena historieta.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Pensamento Esdrúxulo da Semana

Com certeza você já deve ter ouvido falar do Kiss, uma das maiores bandas de rock de todos os tempos.

Mas se traduzir o nome para português, daria banda Beijo, um grupinho mixuruca de axé.

E depois ainda reclamam quando dizem que o Brasil é brega...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Amor é sonho ou sonho é que é amor?

Eliseu e Margarete formavam um casal e tanto. Apesar do pouco tempo de namoro, pareciam que estavam juntos há séculos. Tanto é que, mesmo se conhecendo há apenas três meses, o casamento já estava marcado para o início do próximo ano.

A vida realmente era um grande sonho. E foi nesse embalo que, após visitarem um dos vários apartamentos que gostariam de alugar, resolveram entrar na padaria da esquina.

Mal passava das nove da manhã daquele sábado ensolarado. A empolgação era tanta para escolherem o futuro lar que nem café haviam tomado, mas como ainda teriam muitos apartamentos pela frente, sentaram lado a lado no balcão daquela simpática panificadora.
- Ai, amor... Nem acredito que isso tá acontecendo com a gente!
- Não é maravilhoso, querida?
- Muito mais que isso! É um verdadeiro sonho...

Margarete deu um longo suspiro, mas como Eliseu achava esse doce um pouco enjoativo, preferiu pedir aquele que se referia à última palavra proferida pela noiva.
- Ô campeão! Vê dois sonhos no capricho!

O inusitado pedido da sua alma gêmea só fez a jovem se derreter ainda mais.
- Que perfeito, amor! Dois sonhos pra eternizar esse sonho que a gente tá realizando.

Distraído e nem um pouco chegado a metáforas, ele não entendeu muito bem o que a noiva quis dizer. Também pudera, estava morto de fome. Quando finalmente o pratinho com os apetitosos exemplares daquela massa fofinha coberta de açúcar reforçada por um suculento recheio de doce de leite pousou no balcão, Eliseu estendeu a mão para agarrar o seu desjejum, mas se conteve. Afinal, ele era um cavalheiro e não deveria ser grande problema reprimir por alguns segundos o seu assumido fraco por doces de padaria. Então manteve a postura e resolveu abrir espaço para que sua futura esposa pegasse primeiro. Com os olhos fixos no pratinho à sua frente, ele perguntou:
- Querida, qual é o seu sonho?
- Quer me deixar ainda mais apaixonada, é? Já te disse! O meu maior sonho a gente tá realizando agora...

Um pouco impaciente e com o olhar acompanhando o gotejar do doce de leite por sobre o guardanapo que forrava o prato, Eliseu repetiu de forma seca:
- Querida, qual é o seu sonho?

Margarete riu envergonhada, tapando o rosto com as mãos.
- Ai, lindo. Desculpa a sua tchutchuca ser tão distraída. Eu tô tão feliz que nem percebi que você quer saber dos meus outros sonhos, né.

Eliseu começou a esfregar o rosto com as duas mãos, enquanto sua noiva prosseguia:
- Bom, além de casar e morar juntinho com você, meu tico-tico, eu sonho em terminar a minha faculdade e arrumar um bom emprego. Depois, claro, ter um filho seu e...
- Chega, Margarete! Isso já é tortura! Eu não agüento mais! - berrou Eliseu, enquanto tremia e comia as unhas compulsivamente, interrompendo os apaixonados devaneios da moça.

Margarete, visivelmente ressentida, tentava processar o que estava acontecendo quando Eliseu, totalmente descontrolado, desferiu o golpe de misericórdia:
- Não vai falar qual é o seu sonho? Então eu vou comer os dois! - e enfiou tudo na boca de uma vez.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

A Origem das Coisas: Homem é Tudo Igual

Você, especialmente homem, cabra-macho, mestre do seu domínio e ciente da sua masculinidade, já deve ter cansado de ouvir um famoso e cansativo bordão repetido constantemente pala maioria das moças, fêmeas e mulheres bem resolvidas que você conhece e que certamente ainda vai conhecer: homem é tudo igual.

Isso, além de injustiça, pode ser considerado uma afronta. Como você, homem, cabra-macho, mestre do seu domínio e ciente da sua masculinidade, pode ser comparado – e muito menos igualado – com aquele escroto do seu vizinho que, por mistérios da existência, também é considerado genética e cromossomicamente homem?

Até mesmo você, que é uma moça, fêmea e mulher bem resolvida, consciente de seus direitos e capacidades, e que repete isso aos borbotões, será que acredita que essa expressão é de todo válida? Ou será que só concorda com essa afirmação justamente para não ficar sem assunto naquelas intermináveis horas no cabeleireiro, cujo esporte predileto é, alem de comentar a novela das oito, é falar mal dos homens?

Apesar de, na maior parte das vezes, a humanidade jamais se atentar para o real significado a respeito de tudo que se diz por aí, tudo tem uma origem que explica tudo. Ou, quem sabe, uma origem joga ainda mais escuridão nas trevas da incompreensão.

Para compreendermos a fundo essa questão e entendermos realmente como a expressão “homem é tudo igual” surgiu, voltemos no tempo até chegar à China Antiga.

Durante a dinastia Ming, cujos vasos não muito autênticos são vendidos a preço de banana na 25 de março, duas honoráveis mulheres chinesas conversavam ao lado de uma fonte. O assunto da conversa, adivinhe só, eram os homens.

- Acho que aquele desglaçado do meu malido tá me tlaindo...
- Eu semple dizia pla você: não casa com Chung Lee que você tá felada!
- Chung Lee? Eu não sou casada com Chung Lee! Sou casada com Chang Lee.
- Chang Lee dono da plantação de aloz?
- Não, o Chang Lee que tem cliação de cabla.
- Pela aí, você não é a Lee Chang?
- Não! Eu sou Lee Chung!
- Mas eu também sou Lee Chung!
- Não é você que namola meu plimo Chong Lee?
- Ele é seu plimo? Achei que Chong Lee ela seu malido..
As duas se olharam sem graça, até que uma resolveu quebrar o gelo (só não me diga pra dizer qual das duas, porque isso seria impossível):
- Ah, não tem impoltância... Aqui na China, todo mundo igual mesmo...
- Homem também tudo igual...

Isso só deixa claro que, em seu teor original, não existe nenhuma canalhice por trás da expressão “homem é tudo igual”. Tudo não passa de pura maldade dessa nossa mente ocidental moderna, porque na China, já que ninguém sabe mesmo quem é quem, então ninguém é de ninguém.

Aliás, seria esse o segredo da superpopulação chinesa?

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Lamparina, o Rei do Cagaço – Parte II

Você que já acompanhou a 1ª parte da história de Lamparina e ficou aperreado para saber se o valentão da capital vai dar mesmo pro cheiro e quantos segundos mais ele vai agüentar ficar de pé, além de conhecer os efeitos maléficos de fubá com macaxeira consumidos em excesso, chegou a hora de finalmente se emocionar com o destino desse que poderia ter sido o maior cabra-macho do sertão. Só que, ao contrário de Lampião, com Lamparina não tem essa de Virgulino: o negócio é ir direto ao Ponto Final.

***

Lamparina sentiu uma pequena dor vindo da barriga, que lhe apertava até as mais baixas extremidades, mas isso não o impediu de já começar a espancar o adversário. Não se sabe se era excesso de coragem ou excesso de burrice, mas o tal do valentão resistia e continuava provocando nosso anti-herói, que fazia caretas e mais caretas devido a uma cólica a prova de qualquer dosagem de Atroveran e que o fazia suar em bicas. Era tanta água que escorria de seu corpo que daria para acabar com toda a seca do Nordeste e ainda transformar o Saara em um pântano.

Àquela altura não escondia a irritação. Já sem 31 dos 32 dentes da boca e com os olhos mais inchados que os de Rocky Balboa juntando as lutas contra o Apollo Creed, o Clubber Lang e o Drago, o danado do valentão da capital insistia em levar mais tabefes. Depois de desferir um ‘uppercut’ que atirou o coitado do inimigo 200 metros para longe, não agüentou mais a revolução intestinal e sentou-se sentindo pela primeira vez o que os outros chamavam de dor. Apertava a barriga com sua força descomunal para apaziguar, rezando para que aquele energúmeno batesse as botas de vez e, enfim, correr para o banheiro.

Passados 10 minutos, quando o povo já se preparava para ir embora – e Lamparina, pra despejar todos aqueles anos de macaxeira com fubá acumulados fossa abaixo – um cambaleante valentão da capital, com o pé frouxo de múltiplas fraturas e os braços em carne-viva, ressurge vomitando todo tipo de provocação, finalizando com um “Vem pra riba se tu é macho, seu casca de ferida frouxo da porra!”

Com toda a raiva do mundo impregnada em seu ser, Lamparina fechou os olhos e ficou da cor do diabo, contraindo todos os músculos o corpo. A contração fez com que, tal qual um incrível Hulk avermelhado, as roupas rasgassem se transformando em trapos, sobrando só a calça intacta (pelo menos por enquanto). O povo apavorado nunca tinha visto o ‘hóme’ tão bravo. O que dizer então do valentão da capital, que tremia igual a uma vara verde? Lamparina também tremia, mas por causa da sua colossal contração muscular. Tremia tanto que causou o primeiro terremoto em território brasileiro. Até o barbudo do Luis Inácio teve que se esforçar para manter-se de pé lá em Brasília...

Naquele exato momento as equipes de TV de todo o Brasil surgiram de todos os cantos para mostrar o epicentro do maior abalo sísmico da história da América Latina, mas ao chegarem ali, tomaram conhecimento do histórico de Lamparina e de tudo que se sucedera até ali. O Globocop, o Águia Dourada e até o dirigível do Galvão Bueno sobrevoavam o lugar. Em questão de segundos, todos os televisores do País conheciam a trajetória do filho do ‘Sêo’ Zé da Luz e de Dona Didinha. Finalmente o sonho deles em ver o progenitor famoso estava sendo realizado. Quem sabe até o chamariam para participar do próximo Big Brother? Ou pelo menos para lutar na lama com o Frotinha em uma ressuscitada Casa dos Artistas.

Enquanto sacudiam com o incessante tremor de terra, todas as câmeras, depois de mostrar o coitado do valentão da capital escondendo o rosto de tanto pavor, focavam no rosto do raivoso Lamparina. A sua potente contração muscular havia chegado ao ápice dos ápices, tanto é que apertava os olhos fechados com força sobrenatural. De repente, os olhos de Lamparina se abriram assustados, o terremoto imediatamente cessou e... ‘blosh!’

Uma das câmeras flagrou uma pasta marrom que vazava pela boca da calça. “Seria o chocolate no bolso de Lamparina que não resistira às intempéries do sertão nordestino?” era o que o mais desavisado ali se atreveria a imaginar. O silêncio era total. Ninguém acreditava que aquilo pudesse estar acontecendo. Sem ousar nem respirar, Lamparina estava paralisado, mas como não era muito chegado a exercícios de apinéia, logo respirou fundo, relaxando o até então resistente cóccix e... ‘blosh!’, ‘blosh!’, ‘blosh!’... ‘blooooooooosh!’.

O que se via era um grande mar de bosta liquida com Lamparina, como uma ilha, paralisado no centro. O silêncio só foi quebrado quando o valentão da capital destapou os olhos e, ainda incrédulo, resolveu se aproveitar da situação, erguendo os dois braços e abrindo um sorriso banguela em direção às câmeras. O povo explodiu em festa, carregando nos ombros o que agora era anunciado em rede nacional em todas as emissoras, como “o maior cabra-macho do nordeste!”. Escutar isso fez as pernas de Lamparina amolecerem e, literalmente, o fizeram afundar na merda.

“Lamparina, Lamparina
Cabra-macho sim sinhô
Se num dia ele é arretado
no outro é um monte de cocô”


Dona Didinha e ‘Sêo’ Zé da Luz olharam pesarosos para o outrora orgulho da família e depois seguiram a carreata que partiria dali para o centro da cidade, saudando o valentão da capital. Em poucos minutos o até a pouco superlotado rancho onde cresceu estava vazio. Com o resultado daquele dilúvio diarréico até debaixo da língua, tal qual Biff Tanen afogado em esterco na triologia ‘De Volta Para o Futuro’, Lamparina levantou a cabeça até então submersa por aquela imundície, olhou para o lado e conseguiu até esboçar um sorriso: “Pelo menos a gente tem um ao outro, né Marilda?”. Então o valentão da capital surgiu assobiando na porteira e a sua cabrita de estimação – e por que não, o grande amor da sua vida – partiu dali com ele sem sequer olhar para trás.

Quem diria que, assim como Sansão ao ter os cabelos cortados por Dalila, a sua maior fonte de poder o levaria à total e completa ruína?

Aquele homem foi do céu ao inferno em questão de segundos, foi exposto ao ridículo diante de milhões de telespectadores no país inteiro e foi abandonado até pela própria cabrita.

Talvez seja justamente esse o segredo dos grandes homens da história da humanidade. Porque mesmo diante da mais brutal das adversidades, nada foi capaz de tirar-lhe a majestade, pois a partir daquele dia, ele ficaria para sempre conhecido como ‘Lamparina, o Rei do Cagaço’.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Lamparina, o Rei do Cagaço – Parte I

Tinha tudo pra ser considerado um verdadeiro cabra-macho. Talvez o maior cabra-macho de todos os tempos se não fosse o...
Bom, vamos começar pelo começo.

Alagoano de nascimento, cearense de coração e pernambucano por opção, era um daqueles nordestinos natos. Até o que o ex-presidente almofadinha chamava de ‘aquilo’, o dele era danado de roxo. As meninas remelentas do sertão que o digam. Não tinha noite que o vigoroso rapaz não saía para um rastapé e depois de bater coxa, ralava bucho até dizer “Ai, meu padinho, padiciço! Tô cansado pra porra!”.

Quando não tinha mulher, apelava para a pobre Marilda, a cabrita da família. Numa época em que a bichinha deu cria a dois cabritinhos zarolhos, assim como ele era, todo mundo desconfiou. Afinal, suas andanças noturnas eram constantes. Mas como a zarolhisse era hereditária de pai e de mãe, todo mundo na casa fez vista grossa...

Filho do ‘Sêo’ Zé da Luz, daí o nome Lamparina, o rapaz era abestado que só. Chicoteava o jegue alheio e ninguém se atrevia a reclamar. Era forte como um touro. Tanto é que até os coroné lhe tiravam o chapéu nas encruzilhadas da vida. Tudo porque sua querida mãe, a simpática Dona Didinha, dava desde menino muito fubá com macaxeira para ele comer. E por mais que ouvisse falar muito de aipim, não tinha ninguém que o convencesse que aquilo tudo e mandioca eram exatamente a mesma coisa.

O excesso de força física e valentia era inversamente proporcional à sua quase nula esperteza e inteligência. Na escola, se algum professor tivesse coragem de lhe dar uma nota baixa, ele certamente arrancaria uma tira de couro do bucho com sua reluzente peixeira. Pelo menos era fácil pro corpo docente aplicar-lhe a velada vingança: “Não faz igual esses menino bobo que se acha esperto. Um ano a mais que tu fica em uma série te dá o dobro da inteligência dos ôtro”, lhe dizia o mirrado mas astuto Geninho, professor de matemática e evidentemente especialista em lógica. Dessa maneira fez com que o jovem destruidor cursasse a 5ª série 11 vezes e a 6ª série umas 8. Porém, ninguém teve peito de impedir quando Lamparina quis pular direto pra 8ª série, já que 7 era o seu número de azar.

E foi com muito pesar que, com 30 anos, terminou o primeiro grau e resolveu que não queria mais saber de estudar (surpreendentemente, o índice de meninos surrados e de meninas prenhas caiu de 90% a zero no ano letivo seguinte: oficialmente, era tudo uma mera coincidência, lógico). Afinal, pra que estudo se conseguia tudo o que queria com o poder do muque?

Saiu então para desbravar o sertão nordestino, esbofeteando os homens que ousavam cruzar seu caminho e dando cria nas mulheres das cidades por onde passava. Com o tempo, por causa da valentia e até pelo nome, diziam por toda a região que Lamparina era o novo Lampião. Odiado por uns, amado por outros, mas temido e respeitado por todos.

Mesmo com o sucesso e a fama que já se espalhava pelo Brasil, uma coisa deixava Lamparina triste. A saudade de casa, do ‘Sêo’ Zé da Luz, da Dona Didinha e, lógico, da pobre Marilda era enorme. Mas nada se comparada à que ele sentia pelo fubá com macaxeira. Pilhou restaurantes, plantações e rebanhos inteiros durante sua jornada, só que nada era parecido com aquilo. Não era nenhuma paráfrase de Lulu Santos, mas “eu tô voltando pra casa”, disse ele pra si mesmo. E assim o fez.

Ao ouvir no rádio que as taxas de roubo, agressão e natalidade subiram 3000% de um dia para o outro, Dona Didinha intuiu que Lamparina em breve estaria de volta e tratou de preparar o manjar dos deuses com o qual seu filho há tempos sonhava. O rapaz mal chegou e já devorava dúzias e dúzias de porções do seu prato favorito, ao mesmo tempo em que ouvia por aí que um valentão vindo da capital chegou doido para ter com ele.

A notícia só animou ainda mais Lamparina, que acabou em apenas meia hora com os 130 quilos de macaxeira que sua mamãe lhe prepararia no período de um mês. Nesse mesmo instante, o valentão da capital entrava pela porteira do rancho, com o povo da cidade toda vindo atrás, prontos para assistirem a mais um massacre. Todo mundo sabia que aquele ali não daria nem pro cheiro.

E por falar em cheiro, assim que se colocou à frente do novo adversário, um barulho acossou a barriga de Lamparina e, por suas vias traseiras, um odor de urubu podre colocou à nocaute metade da população do Estado de Pernambuco. Um dos únicos que sobrou de pé era o tal do valentão, que fez um gesto chamando-o para a briga. Estava mais do que claro que um canalhinha como aquele não duraria um minuto nas mãos do até então sucessor de Lampião.

***

E agora? Quanto tempo que o coitado do valentão da capital vai durar nas mãos do implacável Lamparina? Estaria ele preparado para essa que seria a maior cagada da sua vida?

Não perca essas e outras surpreendentes revelações na parte final dessa eletrizante aventura! É só clicar aqui!

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Pequena Releitura

Não penso, logo insisto, não é mesmo?
E de tanto insistir, eis que uma hora surge a compreensão.

Tentativa e erro? Quem sabe... mas o importante mesmo é a descoberta. E por que não, uma auto-crítica em tom de confissão?

Por falar em tentativa, quem tenta ser ou fazer algo, simplesmente fica nesse eterno tentar, desviando-se do verdadeiro caminho de ser aquilo que se é.
Seria essa a grande tentação?

Pra que tentar ser engraçado, se o mais hilário e bem-humorado de verdade é o que vem da espontaneidade?
Pior ainda é tentar ser profundo e se deixar perder-se facilmente na superficialidade.

A graça, a profundidade, o sentido e a beleza, quando verdadeiras, não podem ser fabricadas.
Aos olhos de quem puder, souber ou quiser enxergar, essas coisas, como todas as coisas genuínas da vida, simplesmente são.

A Proposta?
Sejamos o instrumento daquilo que alguns chamam devaneios, outros inspiração ou, em alguns casos, até iluminação.
Mais sério e reflexivo? Só se for possível rir muito de tudo depois.

Daqui, pro que der e vier.

Deixemos sempre a mente fluir.
E lógico: continuando a não pensar e sem jamais deixar de insistir.

Estava à toa na vida, o meu amor me chamou...

... e então de repente descubro que não estava tão à toa assim. Embora às vezes as coisas pareçam sem lógica, no fundo tudo tem um sentido. Uma razão nada racional. Algo que se vê, se ouve, se sente. Mas não existem palavras para explicar. É algo que simplesmente vem e, se você não deixar levar, aí sim tudo fica vazio.

Mas o vazio não significa o nada, assim como o nada não quer dizer vazio. Basta saber ouvir aquela voz - aquela mesma que sempre grita lá no fundo da sua alma, querendo ser ouvida - e entender o que ela diz. Basta olhar pra dentro, enfrentar os seus fantasmas, principalmente aqueles que você mesmo criou. Basta tentar enxergar que se consegue ver. Então você entrará em contato com a força que age silenciosamente e, no seu fluxo, a impressão é que nada se faz e, ainda assim, nada fica sem ser feito.

Não se sabe quando, nem onde e nem como. O que se sabe é que simplesmente é. É a certeza de que, não importa o fim, tudo retorna ao princípio. Quando algo chega ao seu final, significa que muitas outras coisas estão apenas começando.

Seria esse o segredo da imortalidade? O segredo da vida?

Quer a resposta?

Bem, a resposta ninguém vai te dar. Pra quê passar a vida esperando um Salvador se a única pessoa que pode fazer realmente alguma coisa por você é você mesmo? A verdadeira mudança, a real e genuína transformação, só existe se parte de dentro. De dentro de você. É uma caminhada longa. E você vai saber que o caminho está certo quando ele segue pra dentro. Mude o seu mundo interior que o mundo todo se transforma pra você.

Você tem a vida, você vive! E, ainda assim, não percebe a dimensão deste milagre!

Um dia você vai descobrir que os opostos não são inimigos e nem eternos adversários. São apenas as duas partes de um todo. E uma parte não existe sem a outra. Como Adão e Eva, o bom e o mau, a alegria e a tristeza. Assim como o Yin e o Yang. Nada é tão ruim que não tenha seu lado positivo. E nada é tão plenamente bom que não tenha também os seus efeitos colaterais. Pra que tantos conflitos se tudo nasceu em tão perfeita harmonia?

Fatos são fatos. Frios. Imutáveis. E, sobretudo, inevitáveis. A diferença está em como olhamos pra eles, como reagimos. Bons ou ruins? Alegres ou tristes? Que seja! Tudo vale a pena se a alma não é pequena. Não há nada tão descomunal que não possamos compreender. E não há nada tão insignificante que não possamos tirar algum aprendizado.

Você um dia também vai perceber que a linha que separa o que você chama de sonho do que ousa dizer que é realidade é muito, muito tênue. Isso se ela realmente existir. E que os seus limites é você mesmo quem cria. Tanto é que sempre que ousa ultrapassar um deles, você descobre que pode ir ainda mais longe. E sempre que isso acontece, vem aquela sensação, mesmo que por milésimos de segundo, de que você é muito mais do que imagina, que pode ir simplesmente aonde quiser. Então, você tem a certeza de alcançar o que parece inatingível, mas que, na realidade, sempre esteve e sempre estará ao seu alcance. Bem debaixo do seu nariz.

Cada um tem a sua própria verdade e ela está aí mesmo, dentro de você.

Pode até parecer ridículo, mas um dia você também vai entender o que antes absurdo: o tempo passa, volta e ainda não começou; ele não existe e, mesmo assim, é infinito.

Pois é. Só sei que foi assim.
Ainda quer a resposta?

Essa é uma descoberta que só cabe a você. Aí, quem sabe, você possa enxergar e vivenciar uma existência mais completa, harmoniosa e em sintonia com o todo. O mesmo todo que existe em você, em mim e em cada um de nós. Que nos une, nos faz frágeis e ao mesmo tempo, poderosos; que nos faz sentir e ter a certeza do amor incondicional, da unicidade, do mais perfeito equilíbrio. E então você compreende que a vida é uma coisa que não foi feita para ser explicada. Foi feita para ser vivida.

Então você finalmente aprende que o controle não é algo a ser conquistado, mas sim uma coisa da qual precisamos saber abrir mão.

Essa sim é a mais verdadeira liberdade.

E o dia que chegar a essa compreensão, não espere que alguém confirme para você. Você simplesmente vai saber.

***

Importante: Este texto foi originalmente postado em 1º de fevereiro de 2007 no meu antigo site, recolocado aqui mesmo nesse atual blog em 5 de abril de 2007. E de vez em quando vale muito a pena rememorar esse pensamento que, de tão espontâneo, é o melhor reflexo do que se passa "aqui dentro". Tanto é que, toda vez que leio, me surpreendo. Que surpreenda você também.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

O Injustiçado Palavrão

Desde que nos conhecemos por gente, desde que aprendemos a dizer nossas primeiras palavras, nos acostumamos a ouvir sempre alguém lançar a advertência: “Não fala palavrão, menino! Palavrão é feio!”

Quantos beliscões, broncas, tabefes ou puxões de orelha você já levou simplesmente por balbuciar um inocente “Porra!”?

Isso é uma extrema e infundada injustiça. Afinal de contas, o palavrão é a mais sincera e genuína expressão da emoção humana. Um pequeno teste pode comprovar isso:

Você se matou fazendo um trabalho que, ao terminar, ao seu jugo, ficou sensacional, algo inacreditável, que você mesmo duvidava que fosse capaz de fazer. No seu mais profundo âmago, o que você diz (sinceramente) pra você mesmo?
( ) Puxa vida! Ficou o máximo!
( ) Puta que pariu! Ficou do caralho!

Ou então, ao mostrar esse mesmo trabalho para o seu chefe ou para algum colega, o que você prefere ouvir?
( ) Puxa vida! Ficou o máximo!
( ) Puta que pariu! Ficou do caralho!

Bastante óbvio, não?

E quando o seu time está empatando a final do campeonato brasileiro com o seu maior rival, que precisa do empate pra ser campeão, e, no último do segundo tempo, o juiz marca um pênalti pro adversário (Aí já vale um “Ladrão filho da puta”, mas prossigamos com o raciocínio). Eles batem, o goleiro defende e, no contragolpe, um bate-e-rebate desgraçado dentro da área e aquele volantão grosso e raçudo, de canela, empurra a bola pra dentro do gol. Qual a sua reação? Você se levanta calmamente, coloca o corpo em posição ereta e aplaude de forma chique enquanto exclama “Explêndido!” ou dá um salto destrambelhado e berra pra quem quiser ouvir “Porra! Caralho! Puta Golaço! Chupa Bambi!” e mais uma dezena de impropérios?

Em outra situação, quando você, andando de chinelo pelo calçadão da praia, dá aquela topada em uma pedra, nada mais justo que dar um salto descontrolado e gritar “Merda!” ou qualquer outra lista de palavrões dos mais populares. Em trinta segundos você descarregou a raiva e a dor se dissipou, quase num ato de descarrego. Muito mais útil que ficar parado e deixar aquilo consumir sua alma.

O pior é ver na TV, em programas de alto grau de realismo, como ‘Malhação’ (pfffff!), as mais variadas formas de se camuflar um palavrão. Quando um vilão apronta uma e, literalmente, fode com a vida do mocinho, o que seria mais genuíno dizer: “Você ainda vai se dar mal, seu maldito!” ou “Você ainda vai se fuder, seu filho da puta!”?

Aliás, se realismo fosse o forte das novelas ou da maioria das produções falso-moralistas de TV brasileira, em vez de jovens tomando açaí e indo malhar depois da faculdade, veríamos o pessoal enchendo a cara no bar mais próximo e depois caindo na gandaia.

Por outro lado, se você respeita o direito do homem em dizer algo como "Caralho! Que dia lindo?" ao amanhecer, mas é partidário de que não se deve ensinar palavrões às crianças, pense muito bem. Se, por um acaso, na escola, um grupo de merdinhas abusados xingá-lo de tudo quanto é nome bem filho da puta, e ele, por não saber palavrão, solta um inocente “Cara de pinico!”, aí sim ele vai virar motivo de chacota pro resto da vida. Mas se ele responder com uma seqüência de impropérios capaz de fazer Howard Stern ou Dercy Gonçalves enrubescerem, ele vai ser eternamente respeitado.

Ou seja, além de ser a mais genuína expressão humana, nesse caso, um bom palavrão pode ser um instrumento extremamente eficiente de defesa pessoal.

Como deu pra perceber, as palavras conhecidas como palavrões, quando bem executadas, não são apenas a expressão mais singela da alma humana, mas também um excelente instrumento de coerção e intimidação. Por isso, minha gente, se você quer um mundo mais justo, que as pessoas expressem seu sentimento, sejam mais sinceras umas com as outras e sem um pingo de falso-moralismo, defendam o direito do ser humano em falar palavrão.

Se ainda assim, mesmo com tão nobre intuito, alguém tiver coragem de te criticar por isso, é só erguer o dedo médio e mandar pra puta que pariu.

Perguntas Sem Respostas

Quando amanhece, é a noite que acaba ou o dia que começa?
Ao entardecer, é o dia que termina ou a noite que se inicia?
A morte significa um novo nascimento?
Será que o próximo nascimento vem diretamente depois de uma morte?

Deus ajuda a quem cedo madruga?
Deus ajuda o Chaves e não Seu Madruga?
Aliás, quando o Seu Madruga vai pagar o aluguel?
Quando o Professor Girafalles vai dar a bola quadrada pro Quico?
Será que o Professor Lingüiça já mandou ver na Dona Florinda?

Para quem gosta de café: no coador é mais gostoso?
Jacaré no seco anda?
O A tem sou de U?
Se aftas ardem, hemorróidas idem?
Se aqui nevasse usava esqui?

Quer saber? Por que você não vai ver se eu tô lá na esquina?

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Profecia Velada, mas nem tanto...

Entre obviedades, comodismos, horizontes bizarramente restritos ou qualquer outra limitação do gênero, o nosso amigo Ranzinza (vide Diário de um Eterno Ranzinza) até que teve um 'quê' de mago profético.

Era uma bela quarta-feira, 22 de agosto de 2007. O meu 'Curíntia' vinha de uma seqüência de duas boas vitórias e um empate fora de casa, escapando da zona de rebaixamento e, aparentemente, saindo de uma crise causada por uma interminável série de jogos sem vencer.

Isso calou até certo ponto aqueles críticos ferrenhos, mas aqueles outros vários eternos ranzinzas que existem por aí, certamente pensaram que "Pra foder de vez, o Curíntia ganhou! Puta que pariu! Agora vão achar que o filho da puta do técnico é um gênio e não vão mais mandar aquele incompetente embora!"

Naquela mesma quarta-feira à noite, meu querido 'Curíntia' levou uma surra do Botafogo pela Copa Sulamericana e, no último sábado, tomou uma sonora 'lapada na rachada' do Cruzeiro. Resultado: o técnico Paulo César Carpegiani foi demitido.

E não é que, como se previa, teve Ranzinza que saiu por aí dizendo que "Pra acabar de vez com o meu dia, mandaram o técnico do Curíntia embora! Não deram nem tempo pro coitado organizar o time e tentar fazer um trabalho decente. Essa diretoria de merda, viu... E agora quem é que vai ficar no lugar dele?"

Profecia? Adivinhação? Poderes paranormais?
Em se tratando de futebol, ainda mais brasileiro, movido a cegas paixões e ignorante reações, foi tudo bem óbvio, não?

Agora os mais inconformados vão dizer que eu sou pé-frio, que tava tudo bem até esse texto-zica, que o 'Curíntia' ia embalar rumo ao título se não fosse esse percalço de má sorte... Já dizia-se no antigo oriente que quando o dedo aponta pra Lua, o sábio contempla a beleza da esfera lunar, enquanto o idiota se concentra justamente no dedo.

Chegado o domingo, o Massa ganhou a corrida, mas a cabeça continuou inchada pela gozação dos torcedores adversários... Bom, pelo menos à noite deu pra assistir o Fantástico.

Pensamento da Semana

O que os olhos me ajudam a ver são a mesma coisa que o impedem de enxergar o que existe de mais profundo, de ver a beleza intrincada acerca do grande mistério.

Dizem por aí que o que os olhos não vêem, o coração não sente.
Nananinanão! Pois somente o coração é capaz de enxergar aquilo que nossos olhos não conseguem ver.

(Úia! Fui longe, hein?)

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Insistindo em definir

Você é daqueles que fala sem pensar? Ou pensa sem falar? Quem sabe, pensa pra não falar. Ou não pensa justamente pra poder falar. Pode ser também como muita gente faz por aí: fala somente pra não ter que pensar.

Tem gente que não fala porque não pensa. Ou não fala porque pensa demais. Existe aquela tese de que quem fala demais atesta, por si só, que não pensa. Mas isso não quer dizer que não existam matracas extremamente inteligentes e, muito menos, que todo mundo que não fala é porque pensa demais. Tem gente que não fala justamente por não conseguir pensar.

Então fica calado que é melhor!

Quem sabe ainda a gente não aprende a pensar pra saber melhor a hora de falar? Ou falamos um pouco menos pra ajudar quem não pensa sozinho a aprender a raciocinar por si só?

Existia um lema muito comum no Japão antigo que dizia que tudo o que um Samurai diz tem valor de promessa. Algo muito similar com o que se diz acerca dos grandes sábios da China. Gente que pouco fala, mas quando resolve proferir suas poucas e desconcertantes palavras...

Pra que falar sem ter nada a dizer? Por isso que gente como eu prefere escrever.

Não falo e não penso. Logo insisto.

Onde esse mundo vai parar?

Tem gente que não presta atenção em nada mesmo.

Anos atrás uma menininha chegou da escola e entrou em disparada pela cozinha, onde a mãe preparava o jantar. A empolgação era tanta que arfava como um cachorro brincalhão e mal podia traduzir tamanha emoção em palavras.

A mãe, ao reparar na chegada da menininha, olhou pra ela curiosa. A filha respirou fundo três vezes, como havia ensinado a professora na aula de Educação Física pra recobrar o fôlego mais depressa, e disparou ansiosamente:
- Mamãe... Mamãe... Compra pra mim o disco da Sandy Júnior?
- Quem é esse tal de Sandy Júnior? Parente do Fábio Júnior? – estranhou a mãe.
- Não... É a Filha do Chitãozinho e Xororó!

“Aí já é demais!”, pensou a pobre mamãe. Onde esse mundo vai parar? Depois daquela barbaridade de amor livre e daquele pessoal sujo e drogado pregando paz nos anos 60 e 70, agora a filha vinha querendo que ela comprasse o LP de um cantor (ou seria cantora) procedente de dois pais homens. “Filho transformista de casal gay? Deus me livre e guarde!”

O hit infanto-pornográfico ‘Quicocefoi fazê no mato Maria Chiquinha’ não teria lugar naquela casa. De jeito nenhum! Definitivamente, era modernidade demais...

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Diário de um Eterno Ranzinza – O Retrato do Brasil

Em um domingo qualquer...

Hoje eu acordei e a mesma lenga-lenga no rádio. Puta que pariu! Nego metendo pau no Lula e no pessoal do PT. Quem vê pensa que no tempo do FHC com aquele bando de rapina do PFL de butuca era melhor... Faça-me o favor!

Depois quando eu levanto da cama, vou fazer minhas palavras cruzadas (cada dia pior, aliás, tá parecendo coisa de retardado) e a besta da minha mulher reclama disso, reclama daquilo, quer conversar, senta do meu lado... Será que uma vez na vida ela não consegue ficar quieta e me deixa fazer minhas palavras cruzadas em paz? Não é mole não!

E o pentelho do meu filho que vive me pedindo pra levar no parque, pra fazer isso, fazer aquilo? Bem hoje, bem hoje que eu quero descansar! Depois reclama que eu fico bravo!

Pra piorar o Curíntia perdeu! Caralho! Com aquele incompetente filho duma puta de técnico, a gente não ganha nem do XV de Itaquaquecetuba. Tem que demitir aquele canalha!

Bom... Pelo menos tá começando o Fantástico.

(...)

Em outro domingo qualquer...

Tô quase desistindo de ligar o rádio quando acordo de manhã, porra! Hoje tive que ouvir aquele bando de matraca falando mal do Kassab, que ele é isso, que é aquilo. Quem escuta uma coisa dessas pensa que no tempo da Marta e daquela corja do PT tudo era uma maravilha... E eu é que sou burro!

Depois de levantar e sentar pra ver a Fórmula 1 (pra variar o Rubinho nem deu sinal de vida e o Massa pisou na bola no final), a cretina da minha mulher passa do meu lado e nem fala comigo! Que eu saiba marido e mulher tem que conversar, não é só fazer filho! Eu mereço, eu mereço!

E o ingrato do meu filho que nem olhou na minha cara e foi passar o dia no sítio do amiguinho? Bem hoje que eu ia levar ele no parque! Depois reclama que a gente não faz mais nada junto!

Pra estragar o dia ainda mais, o Curíntia empatou! Mas que merda! Com aquele timinho é preferível perder do que empatar. Se perde, pelo menos muda alguma coisa e mandam aquele técnico safado pra rua!

Bom... Pelo menos tá começando o Fantástico.

(...)

Em mais um domingo qualquer...

Começar o dia ligando o rádio é mesmo uma merda! Mas que merda! Como é que nego tem coragem de meter a boca no Maluf desse jeito, dizendo que é ladrão e tudo mais? Quem vê de fora é até capaz de pensar que, quando a tal da Marta tava aí ou com aquele inútil do Kassab, a coisa ficou melhor... Eles devem achar que a gente é idiota!

Como se não bastasse, assim que eu sento pra ler jornal (só notícia ruim, o dólar caiu, a bolsa subiu e blábláblá), lá vem a louca da minha esposa sentar do meu lado, me abraçando, dando beijo, dizendo que me ama... Tem alguma coisa estranha aí! Depois de 15 anos de casado, ou essa pilantra tá querendo alguma coisa ou tá me passando a perna! Quando eu resolver sair de casa, aí sim ela vai ver o que é bom... Haja paciência!

E o folgado do meu filho que resolveu que não queria ir no aniversário no sítio do amiguinho e me fez ir com ele no parque? Bem hoje que tinha jogo na TV ele inventa que quer passar mais tempo comigo! O dinheiro que eu dou toda semana não tá bom? Depois reclama que o papai aqui é ausente!

Pra foder de vez, o Curíntia ganhou! Puta que pariu! Agora vão achar que o filho da puta do técnico é um gênio e não vão mais mandar aquele incompetente embora!

Bom... Pelo menos tá começando o Fantástico.

(...)

Em mais outro domingo qualquer...

Hoje eu acordei e... Puta que pariu! O rádio não tava mais lá! Como é que pode começar o dia sem ouvir o noticiário da manhã?

Depois que eu levantei, sentei pra ver o Globo Rural e cadê minha mulher? Caralho! Aquela vadia deixou um bilhete dizendo que não agüentava mais e que tinha ido de mala e cuia – e com o MEU rádio ainda por cima – pra casa da mãe! “Na alegria ou na tristeza”, disse o padre... Será que ela esqueceu ou eu que fiquei louco?

E quando tava começando o jogo na TV, reparei que meu filho não tava em casa. Foi-se embora junto com a minha mulher! Pai só serve mesmo pra dar dinheiro, né?

Pra acabar de vez com o meu dia, mandaram o técnico do Curíntia embora! Não deram nem tempo pro coitado organizar o time e tentar fazer um trabalho decente. Essa diretoria de merda, viu... E agora quem é que vai ficar no lugar dele?

Bom... Pelo menos tá começando o Fantástico.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

... e agora foi a vez do Yeltsin

O inevitável sempre acontece. E quando ele chega, costuma ser de surpresa ou então não seria surpreendente. Nem inevitável se alguém desse um jeito de evitar. E o passageiro famoso da vez pra essa estranha viagem – uma semana depois da grande Nair Belo – foi o polêmico ex-presidente russo Boris Yeltsin.

O que dizer deste grande homem?

Nada de muito sério, porque aqui não é lugar de política. Pelo menos não de política levada a sério.

Uma das coisas que mais me chamou a atenção nesse dia de luto para toda a grande nação russa, onde joga Vagner Love com sua horripilante trança azulada, foi o fato de, nos inúmeros portais interneteiros que noticiaram a sua morte, alguns escreviam Yeltsin com I e, outros, com Y. Um dos grandes questionamentos que atingem minha mente agora, depois desse lamentoso fato é: se escreve Ieltsin ou Yeltsin?

O UOL insiste no I. O Estadão.com.br utiliza o Y. E qual é o certo?

Já vi jornal ou revista cansar de escrever o Wanderley do Luxemburgo com V no começo e I no final, além do circunflexo (lê-se chapeuzinho de chinês) sobre o segundo E, mesmo com todo jornalista esportivo bem-informado (ou pelo menos todo bom editor) sabendo que, por influência talvez de seu ex-guru Robério de Ogum ou de sua irmã mãe-de-santo, Luxa apelou pra numerologia, trocando o simplório jeitinho brasileiro de ser Vanderlêi pela formosa e luxuosa versão turbinada com ‘dáblio’ e ‘ípsilon’, tal qual o grande Wanderley Cardoso.

Mas isso não tem importância nenhuma, porque já virão jornalistas dizendo que é manual de redação do veículo e bla, bla, bla...

O que importa é a imagem que fica. Não sou nenhum especialista em política internacional, mas quem não se lembra daquela famosa imagem do encontro entre Yeltsin e Clinton, em que o primeiro estava visivelmente bêbado e, o segundo, dava altas gargalhadas? E ainda diziam que isso era politicamente incorreto, principalmente um tal sujeito que lembra muito o Mad e que hoje é presidente do País do comedor de estagiárias.

Esses americanos republicanos falsos-moralistas que não sabem apreciar o que a vida tem de melhor. Queria ver se eles morassem no Brasil e, vira e mexe, ao andar pelas ruas de uma cidade como São Paulo, nos milhares de botecos em cada esquina, vissem um festival de bêbado cambaleando e dando gargalhada. Até aí tudo normal, se não tivesse sempre alguém cantando (ou tentando) banda Calypso no vídeoke. Isso sim é imoral!

Mas o álcool pode ser realmente uma benção. Não concorda? Basta lembrar quando você pegou aquela baranga horrível numa noite dessas e, no dia seguinte, pra evitar que os amigos tirassem sarro, soltava aquele velho bordão “Eu tava bêbado!”.

E o Jânio Quadros, ex-presidente do Brasil, ex-prefeito de São Paulo e difusor daquela música da vassourinha? Além de tudo isso e do ‘buraco do Jânio’ onde hoje é o túnel do Anhangabaú, quem se lembraria dele se não fosse a tão sábia citação “Eu bebo porque é líquido. Se fosse sólido, eu comê-lo-ia!”.

Pois é. Fi-lo porque qui-lo.

sábado, 14 de abril de 2007

Sinal Iminente do Final dos Tempos

Tudo começou quando soube por uns amigos, enquanto jogava futebol (?), que os feirantes agora estavam proibidos de gritar na feira. Quer maior absurdo que esse? Pois fui lá conferir e lá estava a notícia. Imagine só ir à feira e não escutar alguém gritando “Mulher bonita não paga, mas também não leva!” (pensamento gentilmente roubado de Renato Pazikas). Que graça vai ter ir à feira sem escutar “Ói o mamão! Ói o mamão!”?

Tudo bem, tem o pastel de feira que sempre vai ser o melhor do mundo, independentemente de qual feira for. Só que isto também faz pensar. Por mais que os pasteleiros – sejam eles chineses ou não – de todo resto do mundo se esforcem e se aprimorem na arte de fazer pastel, nunca conseguem realizar algo que se compare aos pastéis de feira. Nem se o caldo de cana for grátis, o que alguns pasteleiros de péssima qualidade gastronômica se utilizam pra passar pra frente o seu subproduto.

Será que nas entrelinhas dá pra enxergar o desastre que pode surgir a partir de tudo isso? Com os gritos proibidos, a principal força motriz do feirante e da própria feira como instituição nacional vai ser fortemente abalada. E, querendo ou não, essa nova realidade irá afetar os grandes pasteleiros alquimistas – pois só eles têm a fórmula secreta do Bom Pastel em uma arte milenar passada de pai para filho – causando, por fim, um arrebatador efeito dominó.

Para compreender a totalidade da questão, voltemos à China há milhares de anos. O imperador mongol Ghengis Khan (será que é assim que se escreve?) era impiedoso e já dominava quase todo o continente asiático, restando apenas a imensa e passiva China. Combates sangrentos, vitórias surpreendentes e, cada vez mais, o exército mongol chegava mais próximo ao objetivo. Quando já se aproximavam de Pequim para desferir o golpe de misericórdia, Mr. Khan montou acampamento, notando o cansaço de seus principais homens, e também para definir a sua estratégia de invasão.

De repente, uma manhã, Ghengis Khan despertou com um aroma que entorpeceu seus sentidos e rapidamente removeu a cabra de seu colo – naquele tempo, longos tempos de guerra e ausência de mulheres levariam o homem ao desespero, ou então a antropofagia (do grego “comermo-nos uns aos outros”) e por isso recorriam às cabras ou outros animais passivos.

Fungando sem parar, seu super-olfato detectou que o delicioso cheiro de óleo velho e requentado vinha do sul, exatamente a mesma direção do principal acesso à grande Pequim.

De imediato, Khan chamou seus dois principais generais – que se entretinham com uma lebre e uma tartaruga, respectivamente – e combinou que iriam disfarçados até o local de origem daquele misterioso e atraente cheiro. Ao chegarem, se depararam com um chinês magrelo que sacudia uma espátula em uma imensa bacia de metal repleta de uma estranha massa mergulhada em um gorduroso óleo, e com um fogareiro embaixo. Ao perceber a chegada dos forasteiros, o Chinês lançou um olhar de desprezo para os três e disse:

- Tlês pastel, tlês leal!

Khan coçou o cavanhaque sem entender nada. O Chinês prosseguiu:

- Tlês pastel, tlês leal!

Ainda sem entender o que o Chinês dizia, ainda mais porque se referia a uma moeda que seria criada milênios depois no Brasil, Khan se ajoelhou e implorou pelo segredo daquilo que, na placa ao lado do Chinês, ele lia como “PASTEL 1 LEAL CADA”. O Chinês se irritou e gritou:

- O nome é só Pastel, calamba! Um leal é o pleço! Vai complar ou não?

Então, em um ato de desespero, o até então guerreiro frio e implacável se pôs a chorar e cometeu seu único erro em décadas de batalhas e conquistas: revelou que era o grande Ghengis Khan. Claro que o chinês não acreditou e, então, para provar quem era e conseguir o segredo, levou-o até o acampamento de seu imenso exército. Ainda sem acreditar, o Chinês fez Khan levá-lo de volta à Mongólia, pra ter certeza que aquele grande homem com um chapéu de metal não estava de “picaletagem”. E assim foi feito.

Já em território mongol, Ghengis Khan deu tudo do bom e do melhor ao Chinês, que depois de muitas perguntas e desconfianças, se convenceu de quem ele era realmente. Confiante, Khan finalmente perguntou o segredo. O Chinês, meio sem jeito, coçou a cabeça e respondeu:

- Tem um plima muito gostosa que mandalam pla Coléia polque eu queler semple caçar peliquita dela. Leve-me até lá que te conto o segledo do pastel.

Apesar de contrariado, Ghengis Khan aceitou a condição do Chinês e mandou que uma comitiva o levasse para o litoral nordeste da China, onde uma embarcação com destino à Coréia o estaria esperando. Aproveitando a oportunidade, o Chinês pediu gentilmente que levasse junto seus instrumentos de preparo de pastel, já que seu amor proibido adorava essa iguaria e, em troca, lhe daria a tão sonhada "peliquita".

O barco partiu. Mas uma grande tempestade desviou a pequena embarcação do Chinês e de sua pastelaria marítima da rota programada para o extremo Sul, onde alcançou imensos blocos de neve e gelo, mesmo local que hoje conhecemos como Antártida. Com um “flio de lascar”, o Chinês remou sem parar pra se aquecer e, rapidamente a paisagem mudou. Belas praias e muita gente pelada e de pele vermelha correndo pelas areias (descrição feita pelo próprio Chinês em um misterioso pergaminho encontrado por um padre jesuíta séculos mais tarde). Não era a tão sonhada "peliquita", mas aquilo ali parecia muito tentador.

E assim, muito antes de Colombo chegar às Américas ou Cabral aportar em Porto Seguro, o Chinês chegou a uma terra que tinha muito “Pau Blasil”. Uma terra onde descobriu também óleos gordurosos de tão péssima qualidade que tornaram o seu pastel ainda mais delicioso, muito utilizado em grandes celebrações indígenas onde os pajés, aos berros, ofereciam o melhor de suas colheitas aos deuses. Festa que muito tempo depois daria origem à feira que nós conhecemos hoje em dia.

Moral da história: sem grito, não existe feirante. Sem feirante, não existe feira. E sem feira, não existe pastel de feira. Sem pastel de feira, existe revolta, desordem e, conseqüentemente, o iminente final dos tempos.

obs: realmente, uma bela lição de História.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Verde pra mim, laranja pra você

A Física Quântica, a Neurociência, o Budismo e algumas escolas da psicologia, entre outros setores de estudos e sabedoria, concordam que quem de fato cria a chamada realidade lá de fora é a nossa própria mente. O que vemos não é o mundo de fato, mas a nossa própria representação, de acordo com nossa percepção, experiência, mapas, filtros, crenças e até mesmo limitações inerentes ao nosso estágio evolutivo.

Imagine só: o cérebro humano processa mais de 400 milhões de bits de informação o tempo todo. Mas a nossa consciência estúpida, limitada e que se acha tão dona de si, "enxerga" apenas 2 mil bits disso tudo. Dá pra imaginar o que tem aí fora e que não conseguimos perceber? Dá pra imaginar todo o poder e potencial à nossa disposição e que não nos damos conta?

Isso abre uma gama de possibilidades, desconcerta visões, conceitos, paradigmas e deixa de quatro e ancas abertas formas de pensar que antes eram dominadoras e tidas como verdades absolutas. As implicações filosóficas deste e de outros fatos ligados à essência da realidade é realmente aterradora.

Tantos fatos novos e revolucionários e a idéia de que cada pessoa tem a sua própria representação do que temos no mundo externo. isso nos leva a pensar, não? Pense então no absurdo que deve ser. Se cada pessoa tem sua própria visão, surge a possibilidade de que cada ser humano vê coisas absurdamente diferentes um do outro.

Por exemplo, a camisa que eu estou usando é meio branca, meio azulada, mas que frescos que dizem manjar de moda e de assuntos relacionados ao mundinho fashion dizem que é gelo (gelo tem cor desde quando?). Não, isso vai causar certa confusão. Então vou falar da camiseta que eu usava ontem, que é vermelha.

Eu digo que ela é vermelha, assim como meu vizinho, que também diz que minha camiseta é vermelha. Mas pense, eu sei que é difícil, mas pense: o que eu vejo vermelho pode ser que você veja verde, o meu vizinho veja laranja e o Clodovil, azul-bebê. Mas chamamos de vermelho, afinal vivemos num meio comum. Ficou confuso?

Lembra do cavalo branco de Napoleão? Pois eu digo que o meu branco deve ser verde-água para você. Mas a gente chama de branco, porque convencionalmente é assim e, além do mais, sempre vamos distinguir isso da mesma forma, porque aprendemos dessa maneira, ainda que talvez vejamos coisas completamente diferentes. Mas como vamos saber?

Pensemos mais então: se um daltônico de nascença troca o verde pelo vermelho (e vice-versa), alguém, mostrando o verde pra ele, ensinava que, mesmo que o coitado visse vermelho, aquilo ali era o verde. O mesmo acontecendo quando alguém mostrava o vermelho pra ele, enquanto ele via verde, embora aprendesse que na verdade era vermelho. Isso significa que, então, um daltônico não teria desculpas pra passar direto quando o farol está vermelho ou frear abruptamente quando a sinaleira esverdeia!

Pois é. Embora quando eu julgue que quando te vejo, vejo uma pessoa normal, com a pele lisinha e bem cuidada, quando você se olha no espelho pode ver um ser roxo com bolinhas verdes, com orelhas pontudas e, ainda assim, ter certeza que esse é o normal.

Que alguém me prove o contrário!

(texto originalmente postado em 15 de janeiro de 2007 no antigo site: http://kabessabravanel.weblogger.terra.com.br)

A incrível história do intestino solto até a prisão, que de ventre não tinha nada

Interessante como as coisas acontecem.

Já fazia um tempo que eu pretendia retomar este espaço de pensamentos soltos, insólitos e insolitamente soltos. Mas não sei se era preguiça ou se simplesmente eu estava numa fase de falta de assunto sem fim. Simplesmente não rolava.

Cheguei até ao cúmulo de, numa noite sem sono, postar minha poupança na cadeira de frente para o computador, documento de Word em branco, dedinhos tilintando prestes a digitar qualquer coisa obscura que me passasse pela cabeça, até que a TV ligada na sala dá a ordem e eu obedeço: "Opa! Tá reprisando Tunísia x Arábia Saudita!"

Passada a Copa, burrices de Parreira e cabeçadas de Zidane à parte, de vez em quando prosseguia pensando no assunto, andando por aí e tentando caçar algo inspirador pra que eu pudesse escrever meia dúzia de gracejos. Nada que prestasse além de outra meia dúzia de trocadilhos infames que eu tenho vergonha de recontar até pra mim mesmo.

Até que um dia...

Segunda-feira, 10 de julho de 2006, tinha eu acabado de passar por um fim de semana dos bons ao lado de minha linda e amada galega, dia de trampo sem lá muitos enroscos, voltava dos confins de Alphaville para o coração de São Paulo pensando em coisas que iam desde arquétipos junguianos até a necessidade do Corinthians em contratar com urgência um lateral-direito decente.

Ah! Vale avisar que trata-se de uma quase paráfrase de um conjunto de três 1/3 - azarado ao extremo - que passou por uma situação semelhante, mas o desfecho foi diferente. Nem melhor, nem pior. Diferente.

Voltando ao foco, antes mesmo de chegar ao meu fretadão que parte da cidade-teste de Matrix alocada em Barueri rumo Terra da Garoa, já havia sentido um pequeno incômodo. Nada que me fizesse parar.

Então, já em solo paulistano a bordo do portentoso ônibus da Urubupungá que agora passava ao lado do Parque Villa-Lobos, sinto um burburinho na minha região intestinal. Também não dei muita bola.

Minutos depois, já ali na Pedroso de Morais, o que era burburinho se transformou, digamos, numa pequena cólica que foi capaz de me fazer contrair alguns músculos. Mas ainda assim, nada que pudesse me fazer sair do sério e interromper meus pensamentos avoados, que a essa altura lembravam impressionados de um boteco em São Caetano - cujo dono era uma mistura de Bud Spencer com Osama Bin Laden - que vendia Original a apenas R$ 1,99! Isso mesmo! A cerveja que em qualquer bar que você vai não sai por menos de 4 pilas, por apenas R$ 1,99!!! Como diria Lombardi nos momentos áureos de Sílvio Santos no Show de Calouros para encerrar aquele quadro que mostrava coisas impossíveis, isto é incrível!

Só que mais incrível ainda foi aquela sensação doloridamente insuportável que me acometeu quando o busão fazia a curva na Teodoro Sampaio pra entrar na Dr. Arnaldo. Não só chacoalhou todo meu corpo como também provocou calafrios e me fez suar em bicas mesmo com a temperatura no auge da noite estar em torno de 15ºC. Pensamentos soltos? A única coisa que me vinha à cabeça era um belo vaso branco de cerâmica, podia ser até mesmo de porcelana, mas que com certeza jamais pertenceria à dinastia Ming.

Aliás, o funcionamento do intestino às vezes parece muito com a vida. Quando as coisas não vão bem, ele costuma dar um sinal discreto, mas a gente acha que não é nada e prosseguimos, sem saber que aquele pequeno incômodo vai evoluindo em silêncio. Ainda assim, quando as condições dão uma relativa piorada, ele tem a elegância de nos avisar de novo e nós, no centro do nosso egocentrismo, mestres da razão, senhores das nossas vontades e até das necessidades fisiológicas, achamos que podemos esperar para resolver depois, quando for mais cômodo. Enquanto isso o problema cresce tão absurdamente que até aquele conhecido e apertado orifício sofre para conter. E então, lá vem o intestino de novo e faz um ultimato: "Ou você pára e resolve de vez a situação ou vai dar merda!" - literalmente, igualzinho às coisas da vida.

Pelo menos até então, eu estava com sorte. Minutos após o ultimato intestinal, quase 9 horas da noite, o ônibus já avançava pela Avenida Paulista e meus olhos chegaram a lacrimejar de emoção quando avistei o Shopping Center 3, que ficou nacionalmente conhecido por um incêndio que lá aconteceu nos anos 80, e agora representava a minha salvação. Saltei do coletivo, atravessei a rua, entrei no recinto e, mesmo com uma quase convulsão interna, segui tranqüilo até o meu objetivo.

Enfim, o toalete. Como uma vez disse Julian Huxley, o único lugar onde até mesmo os reis vão a pé. Sentei-me, obrei e, enquanto esperava o tempo passar, resolvi reler um livro genial do Ricardo Kelmer sobre o filme Matrix. E olha que o tempo ali foi suficiente pra ler algumas dezenas de páginas. Foi então que, lendo um trecho que discorria sobre a dependência da humanidade em relação à tecnologia, falando que ficamos totalmente desorientados só pelo fato de faltar luz elétrica, a luz simplesmente apagou. Exatamente no mesmo milésimo de segundo.

Até ali, achava que havia apenas acabado a luz, que era uma coincidência engraçada e só me senti desnorteado porque, na hora de utilizar o rolo de papel higiênico para fazer a limpeza, a escuridão me impedia de conferir visualmente se o serviço já estava terminado. Só me restou contribuir para o desmatamento das nossas florestas e utilizar aquele material feito a base de celulose numa quantidade acima da usual para garantir que aquilo nada mancharia, muito menos a minha reputação.

Mesmo no breu total, eu estava relaxado, tranqüilo e, se bobear, pronto pra outra. Quando saio da minha cabine, vejo luzes trespassando as frestas da porta principal do banheiro, fato que estranhei, já que eu inocentemente achava que o shopping estava sem luz.

Luzes de emergência? Antes fosse... Pois na hora em que fui abrir a porta e sair dali, ela nem se moveu. Trancafiada, cerrada, fechada e intransponível. Só depois eu soube que o Center 3, com exceção do cinema, fecha às 21h.

Estava eu ali, justo na hora que passava o primeiro capítulo de Páginas da Vida, preso no banheiro de um shopping e totalmente no escuro.

Será que consegui escapar pela janelinha do banheiro através do sistema de ventilação? Será que passei a noite ali e só me vi livre às 10 da manhã do dia seguinte, hora do shopping reabrir? Ou alguma terna, divina e milagrosa salvação?

Usem a imaginação, porque eu já falei demais!

(texto originalmente postado em 13 de julho de 2006 no antigo site: http://kabessabravanel.weblogger.terra.com.br)

Para voltar de um longo descanso, nada como um feriado prolongado

Feriadão prolongado. Sol. Todo mundo quer viajar, certo? Errado! Garanto que a maioria sim, menos eu. E tô gostando, viu? Cidade calma. Parece até um lugar habitável, coisa que na maioria dos outros 365 dias do ano eu fico meio na dúvida. Mas imagina só: o pessoal trabalha duro, de sol a sol, de segunda a sexta, sendo que alguns sortudos acabam entregando o sábado à bendita labuta do dia-a-dia. A salvação? Data em homenagem à Proclamação da República, 15 de novembro de 1889, mesma data que, 100 anos depois, elegeu Fernando Collor. A democracia tem dessas, mas voltando ao assunto, hoje em dia 15 de novembro é só um feriadão prolongado mesmo, de sábado à terça na versão 2005, o último do ano pra descansar.

E tome na sexta-feira nego passando em casa pra pegar a família - ou nem isso - e tratando de pegar estrada. Tudo em nome do descanso. Um descanso meio estranho, com algumas horas a mais preso no engarrafamento pra descer pra praia - isso é sair da rotina pra quem vive preso na Marginal? -, buzinaço, a criançada impaciente no banco de trás perguntando se já chegou a cada 5 minutos. Não seria bem um feriado para um dedicado pai de família, mas a materialização do Inferno, incluindo os capetinhas. Em se tratando dos não-casados, mas com um relacionamento fixo, alguém deve ter sorte o suficiente de ter uma namorada (ou namorado) chata no banco do passageiro, é claro, reclamando. No caso das apresadas, "se a gente tivesse saído naquela hora, já estaríamos lá, saco!". Já no das postergadoras, "a gente devia ter esperado um pouquinho mais pra sair, saco!". Pior que a reclamação, só a greve de amor na chegada. Nada que um porre não resolva. Ou, no caso das sado-masoquistas, uma bela bofetada.

Ou então tem aquele grupo de rapazes solteiros, descendo pra praia, loucos pra sair pegando todo mundo, caso que poderia até ser aplicado a mim em alguma fase eventual da vida, mas serve para alguns de meus amigos que agora estão curtindo no Boqueirão de Long Beach querendo encontrar a fina flor, mas só devem estar vendo canhão. E por falar em pegar todo mundo, provavelmente isso é uma coisa que não vai acontecer e, se acontecer, dificilmente vai ser aquela conquista de trazer boas lembranças. Muito pelo contrário. Já cansei de ver amigo meu (às vezes até eu mesmo) passar o feriado inteiro em cima de uma morena - pode ser loira, ou até mesmo oriental, já que tenho tantos conhecidos aficcionados - e no final, quando vê que a vaca tá indo pro brejo, que a retranca é intransponível e que nem o Romário de 94 balançaria as redes de forma digna, deixa essa mesma dignidade de lado e acaba apelando. O resultado: agarra até pesadelo e chama de sonho colorido e é capaz de lamber prego achando que é sorvete. Nesse caso é preferível ficar só na mão. O que, de qualquer forma, é o que vai acabar acontecendo.

Viajar nesse feriado de 15 de novembro? Não, obrigado. Pelo menos não dessa vez, já que de tantas dessas a gente acaba calejado. E um ócio de vez em quando faz bem, senão não teria escrito isso agora. Mas até que é divertido, pois o importante na vida mesmo é ter história pra contar, mesmo que seja escabrosa. Afinal, de que adiantaria sua vida ser um livro aberto se a história for um pé no saco?*

* agradeço a algum grande redator da Almap por me inspirar essa frase, provavelmente título de algum anúncio da Volkswagen que eu não me recordo agora qual
.

(texto originalmente postado em 13 de novembro de 2005 no antigo site: http://kabessabravanel.weblogger.terra.com.br)

Paranóias Psicóticas - A tragédia do pão com manteiga

Pegue um pão. Depois, o pote de manteiga. Aí, para cortar o pão, você vai precisar de uma faca. Depois, para passar a manteiga no pão, você vai precisar ainda de um outro tipo de faca.

Com o pão com manteiga pronto, o que você faz? Com certeza come. Ou então dá para alguém comer.

E o que sobra? Sobram duas facas.

Mas o resultado dessa matemática não é tão simples assim. Duas facas ali, sobrando em cima da pia, nas mais paranóicas mentes, são dois assassinatos em potencial.

Imagine você, dona-de-casa, fazendo o lanchinho para o seu filho levar pra escola. Pense também no seu filho assistindo a um desenho tipo Comichão e Coçadinha - aquele do gato e do rato que se matam violentamente e que o Bart Simpson adora.

O palco para uma grande tragédia familiar está montado.

Minha senhora, imagine só. Você, na mais pura inocência de um doce coração materno, pega o pão com manteiga e vai até o quarto do pequerrucho buscar a lancheirinha dele. Nesse momento, chega a mais perigosa armadilha da programação infantil da televisão: o intervalo comercial.

Entediado com o "Olhou tem que levar" daquele imbecil das Casas Bahia, quando mamãe sai da cozinha, filhotinho vai até lá. Vê as facas livres, leves e soltas em cima da pia. No mesmo momento, vem o flashback do desenho violento.

Sabe aquelas mães desesperadas dos Estados Unidos, tão escandalosas que fazem uma criança de 2 anos ser presa por assédio sexual? Ou aquelas que se organizam em dezenas de gordas senhoras e fazem campanhas para censurar os filmes do James Bond da televisão, porque a influência do 007 - um garanhão de nascença e que não perdoa uma, além de possuir a nobre licença para matar - vai fazer seu jovenzinho espectador querer virar um promíscuo?

Pois então. Bem em tom macabro e doentio, típico daqueles filmes B de terror em que crianças em transe matam todo mundo, a primeira coisa que viria à cabeça do meninote seria a associação: "Hummm, sangue engraçado! Dor divertido!"

Então, o menininho vai até a pia e pega as duas facas.

Exatamente na mesma hora, a pobre e indefesa mãezinha vai caminhando lenta e levemente do quarto da criança em direção à cozinha, com a lancheira equipada a tiracolo, pensando "Será que o tchutchuco vai gostar do lanchinho que mamãezinha preparou com tanto carinho?"

Enfim, a pobre figura materna entra na cozinha. Dá até pra ouvir a trilha do Psicose, obra-prima de Hitchcock, na famosa cena da morte no banheiro. E não é de se espantar: logo se escuta um grito aterrorizante da pobre mãe, que ecoa pela vizinhança toda.

Dentro da cozinha, o filho, com imensa dor na consciência, chora copiosa e desesperadamente: "Desculpa, mãe! Eu não sabia! Eu não sabia! Foi sem querer!"

E, surpreendentemente, a mãe responde, esbravejando: "Geraldinho, meu filho! Eu falei que as facas ficam na gaveta de cima! Não é pra guardar na gaveta de baixo! E que isso não se repita!" - e dá-lhe biliscão no coitado do moleque.

(texto originalmente postado em 13 de junho de 2005 no antigo site: http://kabessabravanel.weblogger.terra.com.br)

Introdução à Poesia

Antes de começar, essa é uma referência aos companheiros de noites fracassadas no msn, Marcocô e Lavignatti (sempre eles). Esse dias, vieram me apresentar uma menina que os dois estavam xavecando via messenger.

E eu, pra sacanear, comecei a fazer uns versinhos irritantes, fazendo as rimas mais absurdas com o nome da garota. Vale aquele ditado: "Se eu não pego ninguém, meus amigos é que não vão pegar". Depois eu percebi a minha habilidade e usei o dom para galanteios. Aí deu nisso: peguei gosto pela coisa.

Agora agüenta:

MINHA VIDA EM VERSO E PROSA
(SEM A PARTE DA PROSA)


Dizem que fazer versinho
É uma coisa bem bonita
Mas quando nego exagera
Tem hora que irrita

Só que eu sempre tenho idéia
Penso nuns treco esquisito
E inventei um site besta:
o "Não penso, Logo Insisto"

Depois de tanto dissertar
Diferente recomeço
Não vou falar de situação
vou mandar logo um verso

Começo do começo
Sem pressa e sem ganância
Vomitando idéia besta
desde os tempos de infância


Quando eu era criança
Olha que coisa engraçada
Não brincava de balança
E só fazia coisa errada

Um dia eu acordei
E pensei "como é que pode?"
Olhei bem pra empregada
E pro seu grande bigode

Eu chamei a minha mãe
E perguntei encafifado
"Ela é mulé bem feia
ou é viado disfarçado?"

Minha mãe ficou perplexa
com tamanha presepada
Me mandou foi pro castigo
e deu muita chinelada


Passou tempo e cresci
Mas a história não mudou
Cresci só no tamanho
E a bobeira continuou

Mas como tudo na vida
Isso deu pra adaptar
Eu virei publicitário
pra viajando trabalhar

Agora eu paro e penso
Que eu ignorei a métrica
Por isso que está saindo
essa monstruosidade tétrica

Mas eu ainda vou mais longe
Chego até no infinito
E é por isso que eu escrevo
no "Não Penso, Logo Insisto"

(texto originalmente postado em 21 de abril de 2005 no antigo site: http://kabessabravanel.weblogger.terra.com.br)

Lamúrias e mais lamúrias...

(Mas pelo menos tem charadinha no final)

Estômago virado é um dos grandes males da humanidade. Principalmente quando ele surge do nada, após um dia disciplinado, uma ótima noite de sono. Se surgisse após uma noite louca, cheia de atrações etílicas e só com duas míseras horinhas de sono, nada mais justo, ainda mais porque a causa foi proporcionada por bons momentos. Mas assim, por nada, deve ser alguma espécie de ira divina ou, como diria o Chaves (Chavo del Ocho, para los muchachos de Mexico), é tudo culpa do espírito zombeteiro.

Mas o pior não é isso. É estar com uma sensação absurda de ressaca, apenas quatro dias após a última bebedeira, que foi leve. Sonolência, leve dor de cabeça, gosto de meia na boca e uma sensação abrupta de enjôo - não, eu não estou grávido.

E o mais legal: tô sem grana, querendo economizar pra conseguir viajar no feriado, e trouxe comida de casa. Primeira opção, um macarrão de duas semanas atrás ou a pizza de ontem à noite. Tudo, aliás, coisas que fazem muito bem para o estômago. Mas como já tá tudo ruim mesmo, vou tentar ver se aquela lei matemática funciona na vida real: menos com menos dá mais. Meu estômago tá uma nhaca (-). Macarrão velho com molho de tomate ácido ou pizza gordurosa (-). Multiplica um elemento com o outro, o resultado tem que dar positivo. Resumindo: vou me curar!

Esse é o retrato de um dia que está começando "bem". Aliás, essa pequena seqüência de pensamentos desafortunados serviu para eu lembrar de uma coisa importantíssima, uma constante na minha vida. Se um dia começa muito mal, no final acontece algo que faz eu me dar muito bem. Não me pergunte o quê. Assim como para um dia que começa estupidamente bem, sempre acaba dando merda no final. É a lei da média. Ou da mérdia. Mas tudo o que eu queria ir embora aqui da agência hoje. Semana curta antes do feriado, nenhum job pra redator - isso que dá ser rápido, criativo e eficiente... hehe - o jeito é tentar inventar uma desculpa ou até jogar a real e ir pra casa dormir. Pensei até em aproveitar o tempo livre e fazer uns "fantasmas" pra incrementar o meu portifólio, mas só consigo pensar em antiácido. Quem sabe surge alguma coisa até o fim do dia? Mas pelo andar da carruagem, tá mais pra eu me trancar no banheiro e dormir do que ter uma idéia sensacional. Que vontade de assistir Sessão de Tarde e depois ver Malhação!

Mas voltando ao assunto, nada como não ter assunto e ficar aqui escrevendo a esmo pra ver se o tempo passa mais rápido. Ou então, debruçar babando na impressora aqui do meu lado pra ver se o patrão nota minha cara lavada e desgraçada de um pobre coitado indisposto e me recomenda ir pra casa descansar. Já experimentei dar uma volta no quarteirão, passar trote, ouvir toda a discografia dos Mamonas Assassinas, mas até agora nada. Estou aqui já há duas horas, mas é como se estivesse há cinco. Uma ressaca sem bebida e sem história pra contar. Tô até pensando em inverter: beber o dia todo no trabalho e ficar sóbrio na balada. Quem sabe funciona?

Hoje é um dia clássico para justificar o nome da página: não tô conseguindo pensar em nada, mas tô aqui insistindo em escrever. Por isso, pra finalizar, uma charadinha ótima que meu irmão me contou ontem:
Se em um hotel, cada um dos andares recebeu o nome de um estado do Brasil, como chama o elevador?
Enviem suas respostas.


(texto originalmente postado em 19 de abril de 2005 no antigo site: http://kabessabravanel.weblogger.terra.com.br)

Como falar a verdade de mentirinha sem nunca mentir de verdade

(ou Manual Técnico do Cinismo)

Se você pensa que cachaça é água, com certeza tem alguma coisa errada com a pinga que você anda bebendo. Ou então já enxugou tanta garrafa de 51 que já nem sente mais o que põe na boca. Mas não é só em coisas estranhas que você coloca na boca involuntariamente (ou não, tudo depende de um ponto de vista mais liberal e moderninho) é que está a complicação. O importante é tomar cuidado com as coisas que saem da sua boca. Nem tanto com o quê, mas em como. Das duas uma: ou isso afunda você em encrenca ou vai te safar. Não é a intenção ensinar você a mentir, mas sim, mostrar como proferir verdades mascaradas que cumpram bem o papel.

Um caso típico é, se você é um rapaz que namora ou se relaciona há tempos com uma garota. Até casado vale. De vez em quando você pode sentir a necessidade ou até mesmo uma vontade súbita, graças àquela sua vizinha nova ou a sua colega de trabalho mais safadinha, de dar uma escapadela. Não que eu queira induzir você à traição ou querendo fazer de você, minha querida leitora, uma corna. Isso é só um exemplo. Se pintar a vontade de pular a cerca e não tiver mesmo jeito, prefira fazer isso durante o dia. Porque se for durante a noite, você corre um grande risco de, finalizado o coito, acabar dormindo. É aí que verdadeiramente mora o perigo, porque as mulheres associam o sexo a dormir juntos. Provavelmente, se a patroa ficar desconfiada, a primeira coisa que ela vai te perguntar é "Adolfinho, você dormiu com aquela sirigaita?" Aí você, na maior das serenidades, responde tranqüilamente que não. Você não vai estar mentindo, não é verdade?

Mais grave é a situação típica do ambiente de trabalho. Seu chefe pede um serviço importantíssimo e que precisa de tudo pronto em duas semanas. Mas você, muito ocupado com o orkut ou assistindo ao vídeo do Sanduíche-iche, não dá a mínima para o que ele fala. Quinze dias depois, toca seu ramal. É o chefe: "Adolfinho, a quantas anda o levantamento de dados para o balanço mensal da empresa?" Sentido já o traseiro atingido pelo sapato italiano do patrão, você tem uma idéia sensacional: "Já estou mandando por e-mail para o senhor". Numa jogada de mestre, abre um arquivo de Excel em branco, salva com um nome técnico qualquer e envia. Ao receber, o chefe novamente liga, diz que o arquivo vem em branco e vai na sua mesa conferir. Quando ele chegar, basta usar seu talento e gritar desesperado "Eu não acredito! O arquivo está em branco!" (note que nessa frase não há mentiras, pois o arquivo está mesmo em branco)

Momentos depois, o suporte técnico das empresa vai à sua mesa, passa o antivírus e reformata sua máquina para tirar uma provável praga desconhecida que teria apagado seu trabalho. Com seu computador fora de ação, o chefe é obrigado a pedir para seu colega fazer em dois dias aquilo que você teve quinze pra fazer e não fez. E depois, é bem capaz de dizer: "Adolfinho, você tá sem máquina, passou por um stress muito grande... vá pra casa descansar!" E tudo isso sem precisar mentir. Tudo bem que essa não é uma ação a ser executada por um iniciante qualquer. Tem que ter estrada. Afinal, você vai ter que utilizar o máximo do seu talento de representação e o seu refinado cinismo com precisão milimétrica. Mas ninguém vai poder te chamar de mentiroso.

Em tempos de aquecimento global e com o fim do mundo a espreita, as questões existenciais estão em voga. E depois dessa agradável leitura, algum Adolfinho com certeza vai perguntar: "Como eu não tô mentindo, se eu fizer tudo isso eu vou pro céu?" É bem provável que não. Afinal, você pode não ser um mentiroso, mas é um canalha, safado, desgraçado e mau-caráter. Por outro lado, se você tiver essa habilidade toda, é bem capaz de conseguir enrolar o próprio Deus.

(texto originalmente postado em 6 de abril de 2005 no antigo site: http://kabessabravanel.weblogger.terra.com.br)

Interlúdio completamente inútil

"Via-me aos poucos sendo ferozmente induzido rumo ao elo perdido da mais profunda imensidão superficial. Perguntava a mim mesmo se essas pulsações eram realmente verdadeiras ou se tratava apenas de um monumental enigma cérebro-corporal que, ao vislumbrar a figura de uma dama ardentemente desnudada logo adiante, "eretizava" o corpo e embaralhava a mente".

Nada como um parágrafo redundantemente rebuscado para complicar o que em apenas algumas palavras, pode ser resumido: "Mulher é foguete". - Foguete? Bom, talvez crianças leiam isso e aprendam a dizer foda, que é um palavrão muito e muito feio. Muito foda isso. Por isso troquei foda por foguete. Se bem que se alguma criança ler isso e vir o lançamento de um foguete na TV, vai gritar "Manhêêêêê, tão lançado uma foda pro espaço!!!" - Retomando o ponto, a complicação para explicar ou lidar com o simples é exatamente a forma favorita com as quais nossas belas fêmeas dispõem para torturar a nós, reles machos.

Mas deixa tudo isso pra lá, porque a intenção de tudo isso é confundir todos vocês, já que hoje estou num marasmo danado, sem criatividade nenhuma e eu tenho a mais completa noção de que é impossível tentar escrever alguma tese tentando entender o funcionamento da complexa figura feminina que, ao mesmo tempo em que tem o dom de encantar a nós, pobres homens, tem a capacidade igualmente devastadora de fritar o nosso cérebro em milésimos de segundo. E sem óleo, pra grudar no fundo da frigideira.

Na verdade, é apenas uma gracinha para tentar esconder a piadinha do foda, que é uma porcaria, só que eu achei ótima. Vou ser repetitivo, mas basta olhar o título dessa página: "Não Penso, logo Insisto". Entendeu? E pra completar, é começo de ano, muito calor, tudo devagar e os neurônios ainda não se recuperaram da manguaça do reveillon. Só podia dar nisso.

Nada contra a mulherada. Pelo contrário, tudo a favor. Concordo em gênero, número e grau com o que já dizia um poeta clássico-modernista com traços contemporâneos:
"Mas só num pode acabá com as muié,
nóis não vive sem muié,
nóis é doido por muié".

É, meus amigos, tem dia que de noite é foda.

(texto originalmente postado em 6 de janeiro de 2005 no antigo site: http://kabessabravanel.weblogger.terra.com.br)

Válido para todos os Reveillons

Mais um ano vai, outro ano vem. O tempo passa, o tempo vôa, tanto é que a poupança Bamerindus nem existe mais. Virou HSBC e não tem mais aquele barbudinho simpático da propaganda que fazia a gente acreditar que banqueiros eram caras legais e bem-intencionados que só querem ajudar.

O que virá pela frente? Não dá pra saber. Mas com certeza é de conhecimento geral que existe um chamado recesso entre natal e carnaval em que não sabemos identificar se é ano velho ou ano novo. O certo é que tudo acaba antes do dia 24 de dezembro e só começa pra valer a partir da quarta-feira de cinzas. E tem gente que leva isso altamente a sério.

Tenho um conhecido, talvez um primo (jamais revelo fontes), que durante alguns anos seguiu à risca e sem falsos-moralismos esse processo. Pode-se até dizer que trabalhava duro, mas chegava dezembro e o sacana dava um jeito de ser demitido amigavelmente - recebia o 13º, fundo de garantia, seguro desemprego, férias, entre tantos direitos - e fechava dezembro feliz da vida com dinheiro no bolso. Distribuía presentes a rodo no Natal, viajava no Reveillón e curtia plenamente o verão em janeiro. Até que, a medida que se aproximava o carnaval, começava a mandar currículos. Passada a folia, batata: em março recomeçava a trabalhar.

Tudo foi de bem a melhor por vários anos até que o nosso amigo Murphy, autor daquela famosa lei, resolveu intervir. Em um final de ano, este ilustre rapaz acabou demitido por justa causa e só foi arrumar outro emprego quase um ano depois. Isso reforça a minha teoria de que uma hora a putaria acaba. A não ser que você seja político. Ou então o Romário. Tá bom, o James Bond também pode entrar na lista.

Mas fala a verdade: quem aqui nunca sonhou em trabalhar 9 meses e meio por ano, fazer o que bem entender nos outros restantes - fora os finais de semana - e nunca faltar grana? Tudo bem, tudo bem. Acho que quando se trata de sonho, a parte relativa ao trabalho está completamente fora. Sonho mesmo é acertar sozinho na Mega Sena acumulada e nunca mais trabalhar na vida.

Já que o assunto é sonho, fim de ano sempre tem aquela coisa de promessa, planos e projetos que, na maioria das vezes, são esquecidos com a ressaca do dia 1º de janeiro. Tem gente que fala que vai emagrecer, que vai fazer academia, que vai ajudar os pobres, que vai parar de beber ou que vai finalmente tomar juízo. Eu já sou mais realista: meu plano para o ano que vem é arrumar mais tempo pra dormir. Sendo assim, proporcionalmente eu ganho mais tempo para sonhar. Não dizem por aí que só alcança grandes objetivos quem sonha muito? Pois então, dormir vai ser o primeiro passo rumo à minha realização como ser humano.

Mudando um pouco a linha de raciocínio, para quem sempre passa a virada do ano na praia, tem sempre aquele negócio de pular 7 ondas e fazer um pedido em cada uma delas. Façam como eu.
Na primeira onda, vou pedir pra que nenhum bêbado desgraçado me derrube na água antes da 3ª onda. Não agüento mais isso! Da segunda até a quarta onda, pretendo utilizar 3 desejos ótimos que aprendi assisindo o Pica-Pau: "Dinheiro... Iates... Mulheres...". Por falar em Pica Pau, acho que na quinta onda vou pedir pra nunca descer uma catarata a bordo de um barril - sempre é bom se garantir. Sexto desejo: o mundo pode até acabar, desde que não falte cerveja e tremoços. Sétimo desejo: mais 7 desejos, por favor. E o primeiro pedido dessa nova série vai ser mais tempo pra pensar nos outros 6. De preferência depois do carnaval, porque é quando o ano realmente começa, não é verdade?

Para o ano que vem, você pode ter muitos planos, mas com certeza 5 coisas nunca vão mudar:
1 - As segundas-feiras, assim como o João Kléber, continuarão insuportáveis.
2 - Vai falar pra Deus e o mundo que o Big Brother é uma merda. Mas não vai perder um capítulo.
3 - Se alguém famoso morrer, você pode até ficar triste. Mas no dia seguinte já vai estar fazendo piadinha.
4 - Quando o seu time perder, foi porque o juíz roubou. É a única explicação lógica.
5 - Na virada para o próximo ano, você vai se arrepender de tudo o que fez no ano que está acabando e vai prometer fazer tudo diferente no ano que vai chegar. O pior é que você vai saber que está mentindo.

Agora chega, né? Prometo que no ano que vem continuarei não pensando, mas prosseguirei insistindo.
Boas festas pra todo mundo, encham a cara, dêem vexame e depois justifiquem dizendo que faz parte do "descarrego". Não tem jeito, fim de ano todo mundo é supersticioso. Só não digo que vou entrar no ano novo com o pé direito porque pretendo continuar a ter as duas pernas.

(texto originalmente postado em 21 de dezembro de 2004 no antigo site: http://kabessabravanel.weblogger.terra.com.br)

Ode ao Bidê

Eis aqui uma justa homenagem a um aparato de porcelana, cerâmica ou sei lá o quê (só sei que não é de madeira), que habita muitos e muitos sanitários de residências, sejam elas familiares ou promíscuas. Ou promiscuamente familiares. Ou familiarmente promíscuas.

Ele geralmente fica lá, bem ao lado da privada, agüenta cheiros firme e forte, serve até de suporte de papel higiênico para os preguiçosos que não o colocam no rolo. Mas ainda assim, ninguém nem dá bola pra ele. Alguns chegam até a removê-lo para aumentar o Box do chuveiro ou então para colocar uma banheira de hidromassagem.

Por essas e outras, aqui vai uma homenagem quase póstuma para esse artefato que, queira ou não, já fez parte de muitos momentos inesquecíveis.

ODE AO BIDÊ

Vive em um lugar fedido
E ainda assim se mantém frio.
Fedorento é o vizinho,
Mas nele ninguém repousa os glúteos,
Só os cadernos do jornal que não são de esporte.
Praticamente um inútil!

Bidê
Na voz dos Jacksons Five
"I'll Bidêêêêêê, I'll Bidêêêêêê"

Bidê
Praticamente um bombeiro
Naquelas horas difíceis:
- Manhêêêêê! Acabou o papel!
- Usa o bidê!!!
E ele cumpre sua heróica missão.
Mas em troca só recebe:
- Ai, que geladinho!

Bidê
Esse é o grande reconhecimento
De quem faz o serviço sujo.
Mas só de vez em quando,
Porque na realidade não faz nada mesmo.

Bid... Peraí!
E não é que se eu tirar esse troço do banheiro posso colocar uma banheira?
É.

Bidê
Foda-se o Bidê.

(texto originalmente postado em 28 de outubro de 2004 no antigo site: http://kabessabravanel.weblogger.terra.com.br)

A besteira é a base (associada) da sabedoria

Esses dias um amigo me perguntou como é que eu consigo pensar em larga escala uma alta quantidade de besteiras sem uma motivação aparente. Isso me pegou de jeito e me colocou pra pensar: "É mesmo, como isso é possível?" Aí lembrei de uma coisa muito importante e que, na minha condição de redator publicitário, é minha obrigação saber. Associação. Nosso cérebro funciona por asociação. Daí se explicam as técnicas de destravamento mental de redatores naqueles dias de branco em que a vontade é se trancar no banheiro e dormir, como brainstorm, mapa mental, entre outros.

Até aí tudo bem. Mas no que isso motiva a geração de tantas besteiras ou coisas aparentemente sem sentido em um pobre cérebro desorientado como o meu? Pois hoje resolvi mapear e acompanhar passo a passo como essas associações acontecem até sair um pensamento non-sense que nem Deus na sua onipotência é capaz de acreditar.

Vamos começar de algo simples, para que pessoas com raciocínio mais lerdo possam acompanhar a evolução da besteira em sua essência até alcançar a sua plenitude: todo mundo, seja religioso ou não, seja freqüentador de igreja, seita ou algo do gênero - ou não -, já deve ter ouvido a frase "Deus é amor".

Passando para uma outra linha de raciocínio, deixando de lado o cunho espiritual, vamos agora falar de gastronomia, no sentido mais amplo que essa palavra pode ter. Vamos pensar naquele dia em que você vai almoçar no restaurante por quilo do lado do seu serviço ou até mesmo em um PF, sabe como é, economizar uma grana e ainda ganhar um suquinho grátis. Depois de encher o bucho, lá vai você pagar a conta, mas sentindo a necessidade de ingerir algo doce para complementar a saciedade. E você, louco por paçoca, bate o olho naquele quadradinho amarelo com um coração no meio, bem ao lado da seção de chicletes. A famosa paçoca Amor (até inventaram um bombom com essa paçoca, mas ficou uma porcaria). Você compra a paçoca Amor, você a saboreia, mastiga, engole e, ao fim, tem a sensação de que está em outro mundo, flutuando, como se estivesse no céu. Bem pertinho de Deus.

Depois, você com certeza vai pensar: "Se Deus é amor, logo Deus é uma paçoca". Com isso, fica claramente perceptível o quanto é impresionante a capacidade que dois pensamentos ou sensações que aparentemente não tem nenhuma relação entre si, se associados, podem culminar em uma coisa tão genial. Por falar em Deus, alguém lembra do desenho do Droopy em que ele aparece em todos os lugares que o coitado do lobo vai para fugir dele? Pois bem, dizem também que Deus está em todo lugar. A conclusão disso é que Droopy é Deus. E como Deus é uma paçoca, Droopy também tende a ser uma paçoca.

Agora um pequeno exercício. Hoje eu acordei pensando em sandálias havaianas. Pensamento vai, pensamento vem e, ao fim, acabei pensando na mancha da careca do ex-presidente soviético, o nosso amigo Gorbachov (ou seria Gorbachev?).
Aliás, por falar no Gorba (mais um exemplo de associação), lembrei de uma série de trocadilhos soviético-comunistas que coloquei dias atrás no orkut:

"Futebol Comunista
Na pelada em comemoração ao primeiro aniversário do Manifesto Comunista, a torcida compareceu em peso pedindo para que Karl Marx um gol.
Anos mais tarde, a pelada teve que ser adiada, porque toda vez no campo do Gorbachov.
E a tradição do futebol dos camaradas foi quebrada porque disseram que o gramado sempre Stalin más condições."


Trocadilho é mesmo um vício desgraçado. E só quem faz é que acha graça. Mais uma vez, por isso que o nome disso aqui é "Não Penso, Logo Insisto". Mas voltando ao raciocínio interrompido, vamos descobrir qual o caminho que o meu tortuoso cérebro tomou para, de sandálias havaianas, chegar na manchinha da careca do Gorbachov (ou Gorbachev?):
- Sandálias havaianas me lembram descanso. Descanso me remete à expresão relax. Quando penso em relax, lembro daquelas casas com a plaquinha "Relax for man". Obviamente, Relax for Man me faz pensar em mulheres nuas. O que me lembra que, às vezes, mulheres nuas usam biquini para variar um pouco ou para não pegarem resfriado. E não dá pra pensar em biquíni e não falar de praia. Pensando em praia, lembro um dia na Praia Grande em que meu tio, que odeia gatos, acertou uma chinelada a 50m de distância em um bichano que berrava às 5 da manhã. Já que o assunto é gato, gato gosta de comer passarinho. E o passarinho mais comum nessa cidade suja que é São Paulo, é pomba. Pomba vive fazendo cocô na cabeça das pessoas. E se a pessoa atingida for careca, a cagada pombal fica igual à manchinha da careca do Gorba.

Realmente não penso. Por isso que insisto tanto. Prometo melhorar nas próximas edições. Vale lembrar também um recado importantíssimo que a Al-Qaeda mandou ao mundo através da Al-Jazeera:
"Não odeiem Bin Laden. Afinal, ele Osama"

(texto originalmente postado em 1o. de setembro de 2004 no antigo site: http://kabessabravanel.weblogger.terra.com.br)