quinta-feira, 5 de abril de 2007

A incrível história do intestino solto até a prisão, que de ventre não tinha nada

Interessante como as coisas acontecem.

Já fazia um tempo que eu pretendia retomar este espaço de pensamentos soltos, insólitos e insolitamente soltos. Mas não sei se era preguiça ou se simplesmente eu estava numa fase de falta de assunto sem fim. Simplesmente não rolava.

Cheguei até ao cúmulo de, numa noite sem sono, postar minha poupança na cadeira de frente para o computador, documento de Word em branco, dedinhos tilintando prestes a digitar qualquer coisa obscura que me passasse pela cabeça, até que a TV ligada na sala dá a ordem e eu obedeço: "Opa! Tá reprisando Tunísia x Arábia Saudita!"

Passada a Copa, burrices de Parreira e cabeçadas de Zidane à parte, de vez em quando prosseguia pensando no assunto, andando por aí e tentando caçar algo inspirador pra que eu pudesse escrever meia dúzia de gracejos. Nada que prestasse além de outra meia dúzia de trocadilhos infames que eu tenho vergonha de recontar até pra mim mesmo.

Até que um dia...

Segunda-feira, 10 de julho de 2006, tinha eu acabado de passar por um fim de semana dos bons ao lado de minha linda e amada galega, dia de trampo sem lá muitos enroscos, voltava dos confins de Alphaville para o coração de São Paulo pensando em coisas que iam desde arquétipos junguianos até a necessidade do Corinthians em contratar com urgência um lateral-direito decente.

Ah! Vale avisar que trata-se de uma quase paráfrase de um conjunto de três 1/3 - azarado ao extremo - que passou por uma situação semelhante, mas o desfecho foi diferente. Nem melhor, nem pior. Diferente.

Voltando ao foco, antes mesmo de chegar ao meu fretadão que parte da cidade-teste de Matrix alocada em Barueri rumo Terra da Garoa, já havia sentido um pequeno incômodo. Nada que me fizesse parar.

Então, já em solo paulistano a bordo do portentoso ônibus da Urubupungá que agora passava ao lado do Parque Villa-Lobos, sinto um burburinho na minha região intestinal. Também não dei muita bola.

Minutos depois, já ali na Pedroso de Morais, o que era burburinho se transformou, digamos, numa pequena cólica que foi capaz de me fazer contrair alguns músculos. Mas ainda assim, nada que pudesse me fazer sair do sério e interromper meus pensamentos avoados, que a essa altura lembravam impressionados de um boteco em São Caetano - cujo dono era uma mistura de Bud Spencer com Osama Bin Laden - que vendia Original a apenas R$ 1,99! Isso mesmo! A cerveja que em qualquer bar que você vai não sai por menos de 4 pilas, por apenas R$ 1,99!!! Como diria Lombardi nos momentos áureos de Sílvio Santos no Show de Calouros para encerrar aquele quadro que mostrava coisas impossíveis, isto é incrível!

Só que mais incrível ainda foi aquela sensação doloridamente insuportável que me acometeu quando o busão fazia a curva na Teodoro Sampaio pra entrar na Dr. Arnaldo. Não só chacoalhou todo meu corpo como também provocou calafrios e me fez suar em bicas mesmo com a temperatura no auge da noite estar em torno de 15ºC. Pensamentos soltos? A única coisa que me vinha à cabeça era um belo vaso branco de cerâmica, podia ser até mesmo de porcelana, mas que com certeza jamais pertenceria à dinastia Ming.

Aliás, o funcionamento do intestino às vezes parece muito com a vida. Quando as coisas não vão bem, ele costuma dar um sinal discreto, mas a gente acha que não é nada e prosseguimos, sem saber que aquele pequeno incômodo vai evoluindo em silêncio. Ainda assim, quando as condições dão uma relativa piorada, ele tem a elegância de nos avisar de novo e nós, no centro do nosso egocentrismo, mestres da razão, senhores das nossas vontades e até das necessidades fisiológicas, achamos que podemos esperar para resolver depois, quando for mais cômodo. Enquanto isso o problema cresce tão absurdamente que até aquele conhecido e apertado orifício sofre para conter. E então, lá vem o intestino de novo e faz um ultimato: "Ou você pára e resolve de vez a situação ou vai dar merda!" - literalmente, igualzinho às coisas da vida.

Pelo menos até então, eu estava com sorte. Minutos após o ultimato intestinal, quase 9 horas da noite, o ônibus já avançava pela Avenida Paulista e meus olhos chegaram a lacrimejar de emoção quando avistei o Shopping Center 3, que ficou nacionalmente conhecido por um incêndio que lá aconteceu nos anos 80, e agora representava a minha salvação. Saltei do coletivo, atravessei a rua, entrei no recinto e, mesmo com uma quase convulsão interna, segui tranqüilo até o meu objetivo.

Enfim, o toalete. Como uma vez disse Julian Huxley, o único lugar onde até mesmo os reis vão a pé. Sentei-me, obrei e, enquanto esperava o tempo passar, resolvi reler um livro genial do Ricardo Kelmer sobre o filme Matrix. E olha que o tempo ali foi suficiente pra ler algumas dezenas de páginas. Foi então que, lendo um trecho que discorria sobre a dependência da humanidade em relação à tecnologia, falando que ficamos totalmente desorientados só pelo fato de faltar luz elétrica, a luz simplesmente apagou. Exatamente no mesmo milésimo de segundo.

Até ali, achava que havia apenas acabado a luz, que era uma coincidência engraçada e só me senti desnorteado porque, na hora de utilizar o rolo de papel higiênico para fazer a limpeza, a escuridão me impedia de conferir visualmente se o serviço já estava terminado. Só me restou contribuir para o desmatamento das nossas florestas e utilizar aquele material feito a base de celulose numa quantidade acima da usual para garantir que aquilo nada mancharia, muito menos a minha reputação.

Mesmo no breu total, eu estava relaxado, tranqüilo e, se bobear, pronto pra outra. Quando saio da minha cabine, vejo luzes trespassando as frestas da porta principal do banheiro, fato que estranhei, já que eu inocentemente achava que o shopping estava sem luz.

Luzes de emergência? Antes fosse... Pois na hora em que fui abrir a porta e sair dali, ela nem se moveu. Trancafiada, cerrada, fechada e intransponível. Só depois eu soube que o Center 3, com exceção do cinema, fecha às 21h.

Estava eu ali, justo na hora que passava o primeiro capítulo de Páginas da Vida, preso no banheiro de um shopping e totalmente no escuro.

Será que consegui escapar pela janelinha do banheiro através do sistema de ventilação? Será que passei a noite ali e só me vi livre às 10 da manhã do dia seguinte, hora do shopping reabrir? Ou alguma terna, divina e milagrosa salvação?

Usem a imaginação, porque eu já falei demais!

(texto originalmente postado em 13 de julho de 2006 no antigo site: http://kabessabravanel.weblogger.terra.com.br)

Um comentário:

Marcelo Gavini, não-pensante e insistente disse...

finalmente no ar kbção!!!!
blog da errata
revistaerrata.blogspot.com

Weblog : http://revistaerrata.blogspot.com
Doug - enviado em 14/11/2006 17:22:00



eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
pra bom entendedor, uma só letra repetida diversas vezes basta...

Quer - enviado em 17/7/2006 00:08:00


hahahaha vamos ver a merda que isso vai dar! pelo menos vc conseguiu estar no trabalho a tempo!

sputnik - enviado em 14/7/2006 15:47:00


hahahaha seu post é uma merda!!! adorei!!! mas fiquei curiosa com o desfecho!!! bjssss

Weblog : http://renatacustodio.spaces.msn.com/
Renata - enviado em 14/7/2006 15:07:00



hahahahahhaahahha
sensacional!
vc é um grandecissimo filho da puta

1/3 espanhol - enviado em 14/7/2006 10:52:00


É, Marcelo. Apesar te ter te conhecido no tópico dos defeitos, tenho q falar de uma qualidade aqui! huhuh Tu escreve mt bem, viu? Eu pensei que só EU passava por certas situações, mas, pelo visto, achei um companheiro. Espere pra eu te contar as minhas! huhu
Bjo

PS: depois te conto o 1o capítulo de Páginas da Vida.

Gabriela Martinez - enviado em 14/7/2006 09:18:00