quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Pensamento Esdrúxulo da Semana

Com certeza você já deve ter ouvido falar do Kiss, uma das maiores bandas de rock de todos os tempos.

Mas se traduzir o nome para português, daria banda Beijo, um grupinho mixuruca de axé.

E depois ainda reclamam quando dizem que o Brasil é brega...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Amor é sonho ou sonho é que é amor?

Eliseu e Margarete formavam um casal e tanto. Apesar do pouco tempo de namoro, pareciam que estavam juntos há séculos. Tanto é que, mesmo se conhecendo há apenas três meses, o casamento já estava marcado para o início do próximo ano.

A vida realmente era um grande sonho. E foi nesse embalo que, após visitarem um dos vários apartamentos que gostariam de alugar, resolveram entrar na padaria da esquina.

Mal passava das nove da manhã daquele sábado ensolarado. A empolgação era tanta para escolherem o futuro lar que nem café haviam tomado, mas como ainda teriam muitos apartamentos pela frente, sentaram lado a lado no balcão daquela simpática panificadora.
- Ai, amor... Nem acredito que isso tá acontecendo com a gente!
- Não é maravilhoso, querida?
- Muito mais que isso! É um verdadeiro sonho...

Margarete deu um longo suspiro, mas como Eliseu achava esse doce um pouco enjoativo, preferiu pedir aquele que se referia à última palavra proferida pela noiva.
- Ô campeão! Vê dois sonhos no capricho!

O inusitado pedido da sua alma gêmea só fez a jovem se derreter ainda mais.
- Que perfeito, amor! Dois sonhos pra eternizar esse sonho que a gente tá realizando.

Distraído e nem um pouco chegado a metáforas, ele não entendeu muito bem o que a noiva quis dizer. Também pudera, estava morto de fome. Quando finalmente o pratinho com os apetitosos exemplares daquela massa fofinha coberta de açúcar reforçada por um suculento recheio de doce de leite pousou no balcão, Eliseu estendeu a mão para agarrar o seu desjejum, mas se conteve. Afinal, ele era um cavalheiro e não deveria ser grande problema reprimir por alguns segundos o seu assumido fraco por doces de padaria. Então manteve a postura e resolveu abrir espaço para que sua futura esposa pegasse primeiro. Com os olhos fixos no pratinho à sua frente, ele perguntou:
- Querida, qual é o seu sonho?
- Quer me deixar ainda mais apaixonada, é? Já te disse! O meu maior sonho a gente tá realizando agora...

Um pouco impaciente e com o olhar acompanhando o gotejar do doce de leite por sobre o guardanapo que forrava o prato, Eliseu repetiu de forma seca:
- Querida, qual é o seu sonho?

Margarete riu envergonhada, tapando o rosto com as mãos.
- Ai, lindo. Desculpa a sua tchutchuca ser tão distraída. Eu tô tão feliz que nem percebi que você quer saber dos meus outros sonhos, né.

Eliseu começou a esfregar o rosto com as duas mãos, enquanto sua noiva prosseguia:
- Bom, além de casar e morar juntinho com você, meu tico-tico, eu sonho em terminar a minha faculdade e arrumar um bom emprego. Depois, claro, ter um filho seu e...
- Chega, Margarete! Isso já é tortura! Eu não agüento mais! - berrou Eliseu, enquanto tremia e comia as unhas compulsivamente, interrompendo os apaixonados devaneios da moça.

Margarete, visivelmente ressentida, tentava processar o que estava acontecendo quando Eliseu, totalmente descontrolado, desferiu o golpe de misericórdia:
- Não vai falar qual é o seu sonho? Então eu vou comer os dois! - e enfiou tudo na boca de uma vez.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

A Origem das Coisas: Homem é Tudo Igual

Você, especialmente homem, cabra-macho, mestre do seu domínio e ciente da sua masculinidade, já deve ter cansado de ouvir um famoso e cansativo bordão repetido constantemente pala maioria das moças, fêmeas e mulheres bem resolvidas que você conhece e que certamente ainda vai conhecer: homem é tudo igual.

Isso, além de injustiça, pode ser considerado uma afronta. Como você, homem, cabra-macho, mestre do seu domínio e ciente da sua masculinidade, pode ser comparado – e muito menos igualado – com aquele escroto do seu vizinho que, por mistérios da existência, também é considerado genética e cromossomicamente homem?

Até mesmo você, que é uma moça, fêmea e mulher bem resolvida, consciente de seus direitos e capacidades, e que repete isso aos borbotões, será que acredita que essa expressão é de todo válida? Ou será que só concorda com essa afirmação justamente para não ficar sem assunto naquelas intermináveis horas no cabeleireiro, cujo esporte predileto é, alem de comentar a novela das oito, é falar mal dos homens?

Apesar de, na maior parte das vezes, a humanidade jamais se atentar para o real significado a respeito de tudo que se diz por aí, tudo tem uma origem que explica tudo. Ou, quem sabe, uma origem joga ainda mais escuridão nas trevas da incompreensão.

Para compreendermos a fundo essa questão e entendermos realmente como a expressão “homem é tudo igual” surgiu, voltemos no tempo até chegar à China Antiga.

Durante a dinastia Ming, cujos vasos não muito autênticos são vendidos a preço de banana na 25 de março, duas honoráveis mulheres chinesas conversavam ao lado de uma fonte. O assunto da conversa, adivinhe só, eram os homens.

- Acho que aquele desglaçado do meu malido tá me tlaindo...
- Eu semple dizia pla você: não casa com Chung Lee que você tá felada!
- Chung Lee? Eu não sou casada com Chung Lee! Sou casada com Chang Lee.
- Chang Lee dono da plantação de aloz?
- Não, o Chang Lee que tem cliação de cabla.
- Pela aí, você não é a Lee Chang?
- Não! Eu sou Lee Chung!
- Mas eu também sou Lee Chung!
- Não é você que namola meu plimo Chong Lee?
- Ele é seu plimo? Achei que Chong Lee ela seu malido..
As duas se olharam sem graça, até que uma resolveu quebrar o gelo (só não me diga pra dizer qual das duas, porque isso seria impossível):
- Ah, não tem impoltância... Aqui na China, todo mundo igual mesmo...
- Homem também tudo igual...

Isso só deixa claro que, em seu teor original, não existe nenhuma canalhice por trás da expressão “homem é tudo igual”. Tudo não passa de pura maldade dessa nossa mente ocidental moderna, porque na China, já que ninguém sabe mesmo quem é quem, então ninguém é de ninguém.

Aliás, seria esse o segredo da superpopulação chinesa?

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Lamparina, o Rei do Cagaço – Parte II

Você que já acompanhou a 1ª parte da história de Lamparina e ficou aperreado para saber se o valentão da capital vai dar mesmo pro cheiro e quantos segundos mais ele vai agüentar ficar de pé, além de conhecer os efeitos maléficos de fubá com macaxeira consumidos em excesso, chegou a hora de finalmente se emocionar com o destino desse que poderia ter sido o maior cabra-macho do sertão. Só que, ao contrário de Lampião, com Lamparina não tem essa de Virgulino: o negócio é ir direto ao Ponto Final.

***

Lamparina sentiu uma pequena dor vindo da barriga, que lhe apertava até as mais baixas extremidades, mas isso não o impediu de já começar a espancar o adversário. Não se sabe se era excesso de coragem ou excesso de burrice, mas o tal do valentão resistia e continuava provocando nosso anti-herói, que fazia caretas e mais caretas devido a uma cólica a prova de qualquer dosagem de Atroveran e que o fazia suar em bicas. Era tanta água que escorria de seu corpo que daria para acabar com toda a seca do Nordeste e ainda transformar o Saara em um pântano.

Àquela altura não escondia a irritação. Já sem 31 dos 32 dentes da boca e com os olhos mais inchados que os de Rocky Balboa juntando as lutas contra o Apollo Creed, o Clubber Lang e o Drago, o danado do valentão da capital insistia em levar mais tabefes. Depois de desferir um ‘uppercut’ que atirou o coitado do inimigo 200 metros para longe, não agüentou mais a revolução intestinal e sentou-se sentindo pela primeira vez o que os outros chamavam de dor. Apertava a barriga com sua força descomunal para apaziguar, rezando para que aquele energúmeno batesse as botas de vez e, enfim, correr para o banheiro.

Passados 10 minutos, quando o povo já se preparava para ir embora – e Lamparina, pra despejar todos aqueles anos de macaxeira com fubá acumulados fossa abaixo – um cambaleante valentão da capital, com o pé frouxo de múltiplas fraturas e os braços em carne-viva, ressurge vomitando todo tipo de provocação, finalizando com um “Vem pra riba se tu é macho, seu casca de ferida frouxo da porra!”

Com toda a raiva do mundo impregnada em seu ser, Lamparina fechou os olhos e ficou da cor do diabo, contraindo todos os músculos o corpo. A contração fez com que, tal qual um incrível Hulk avermelhado, as roupas rasgassem se transformando em trapos, sobrando só a calça intacta (pelo menos por enquanto). O povo apavorado nunca tinha visto o ‘hóme’ tão bravo. O que dizer então do valentão da capital, que tremia igual a uma vara verde? Lamparina também tremia, mas por causa da sua colossal contração muscular. Tremia tanto que causou o primeiro terremoto em território brasileiro. Até o barbudo do Luis Inácio teve que se esforçar para manter-se de pé lá em Brasília...

Naquele exato momento as equipes de TV de todo o Brasil surgiram de todos os cantos para mostrar o epicentro do maior abalo sísmico da história da América Latina, mas ao chegarem ali, tomaram conhecimento do histórico de Lamparina e de tudo que se sucedera até ali. O Globocop, o Águia Dourada e até o dirigível do Galvão Bueno sobrevoavam o lugar. Em questão de segundos, todos os televisores do País conheciam a trajetória do filho do ‘Sêo’ Zé da Luz e de Dona Didinha. Finalmente o sonho deles em ver o progenitor famoso estava sendo realizado. Quem sabe até o chamariam para participar do próximo Big Brother? Ou pelo menos para lutar na lama com o Frotinha em uma ressuscitada Casa dos Artistas.

Enquanto sacudiam com o incessante tremor de terra, todas as câmeras, depois de mostrar o coitado do valentão da capital escondendo o rosto de tanto pavor, focavam no rosto do raivoso Lamparina. A sua potente contração muscular havia chegado ao ápice dos ápices, tanto é que apertava os olhos fechados com força sobrenatural. De repente, os olhos de Lamparina se abriram assustados, o terremoto imediatamente cessou e... ‘blosh!’

Uma das câmeras flagrou uma pasta marrom que vazava pela boca da calça. “Seria o chocolate no bolso de Lamparina que não resistira às intempéries do sertão nordestino?” era o que o mais desavisado ali se atreveria a imaginar. O silêncio era total. Ninguém acreditava que aquilo pudesse estar acontecendo. Sem ousar nem respirar, Lamparina estava paralisado, mas como não era muito chegado a exercícios de apinéia, logo respirou fundo, relaxando o até então resistente cóccix e... ‘blosh!’, ‘blosh!’, ‘blosh!’... ‘blooooooooosh!’.

O que se via era um grande mar de bosta liquida com Lamparina, como uma ilha, paralisado no centro. O silêncio só foi quebrado quando o valentão da capital destapou os olhos e, ainda incrédulo, resolveu se aproveitar da situação, erguendo os dois braços e abrindo um sorriso banguela em direção às câmeras. O povo explodiu em festa, carregando nos ombros o que agora era anunciado em rede nacional em todas as emissoras, como “o maior cabra-macho do nordeste!”. Escutar isso fez as pernas de Lamparina amolecerem e, literalmente, o fizeram afundar na merda.

“Lamparina, Lamparina
Cabra-macho sim sinhô
Se num dia ele é arretado
no outro é um monte de cocô”


Dona Didinha e ‘Sêo’ Zé da Luz olharam pesarosos para o outrora orgulho da família e depois seguiram a carreata que partiria dali para o centro da cidade, saudando o valentão da capital. Em poucos minutos o até a pouco superlotado rancho onde cresceu estava vazio. Com o resultado daquele dilúvio diarréico até debaixo da língua, tal qual Biff Tanen afogado em esterco na triologia ‘De Volta Para o Futuro’, Lamparina levantou a cabeça até então submersa por aquela imundície, olhou para o lado e conseguiu até esboçar um sorriso: “Pelo menos a gente tem um ao outro, né Marilda?”. Então o valentão da capital surgiu assobiando na porteira e a sua cabrita de estimação – e por que não, o grande amor da sua vida – partiu dali com ele sem sequer olhar para trás.

Quem diria que, assim como Sansão ao ter os cabelos cortados por Dalila, a sua maior fonte de poder o levaria à total e completa ruína?

Aquele homem foi do céu ao inferno em questão de segundos, foi exposto ao ridículo diante de milhões de telespectadores no país inteiro e foi abandonado até pela própria cabrita.

Talvez seja justamente esse o segredo dos grandes homens da história da humanidade. Porque mesmo diante da mais brutal das adversidades, nada foi capaz de tirar-lhe a majestade, pois a partir daquele dia, ele ficaria para sempre conhecido como ‘Lamparina, o Rei do Cagaço’.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Lamparina, o Rei do Cagaço – Parte I

Tinha tudo pra ser considerado um verdadeiro cabra-macho. Talvez o maior cabra-macho de todos os tempos se não fosse o...
Bom, vamos começar pelo começo.

Alagoano de nascimento, cearense de coração e pernambucano por opção, era um daqueles nordestinos natos. Até o que o ex-presidente almofadinha chamava de ‘aquilo’, o dele era danado de roxo. As meninas remelentas do sertão que o digam. Não tinha noite que o vigoroso rapaz não saía para um rastapé e depois de bater coxa, ralava bucho até dizer “Ai, meu padinho, padiciço! Tô cansado pra porra!”.

Quando não tinha mulher, apelava para a pobre Marilda, a cabrita da família. Numa época em que a bichinha deu cria a dois cabritinhos zarolhos, assim como ele era, todo mundo desconfiou. Afinal, suas andanças noturnas eram constantes. Mas como a zarolhisse era hereditária de pai e de mãe, todo mundo na casa fez vista grossa...

Filho do ‘Sêo’ Zé da Luz, daí o nome Lamparina, o rapaz era abestado que só. Chicoteava o jegue alheio e ninguém se atrevia a reclamar. Era forte como um touro. Tanto é que até os coroné lhe tiravam o chapéu nas encruzilhadas da vida. Tudo porque sua querida mãe, a simpática Dona Didinha, dava desde menino muito fubá com macaxeira para ele comer. E por mais que ouvisse falar muito de aipim, não tinha ninguém que o convencesse que aquilo tudo e mandioca eram exatamente a mesma coisa.

O excesso de força física e valentia era inversamente proporcional à sua quase nula esperteza e inteligência. Na escola, se algum professor tivesse coragem de lhe dar uma nota baixa, ele certamente arrancaria uma tira de couro do bucho com sua reluzente peixeira. Pelo menos era fácil pro corpo docente aplicar-lhe a velada vingança: “Não faz igual esses menino bobo que se acha esperto. Um ano a mais que tu fica em uma série te dá o dobro da inteligência dos ôtro”, lhe dizia o mirrado mas astuto Geninho, professor de matemática e evidentemente especialista em lógica. Dessa maneira fez com que o jovem destruidor cursasse a 5ª série 11 vezes e a 6ª série umas 8. Porém, ninguém teve peito de impedir quando Lamparina quis pular direto pra 8ª série, já que 7 era o seu número de azar.

E foi com muito pesar que, com 30 anos, terminou o primeiro grau e resolveu que não queria mais saber de estudar (surpreendentemente, o índice de meninos surrados e de meninas prenhas caiu de 90% a zero no ano letivo seguinte: oficialmente, era tudo uma mera coincidência, lógico). Afinal, pra que estudo se conseguia tudo o que queria com o poder do muque?

Saiu então para desbravar o sertão nordestino, esbofeteando os homens que ousavam cruzar seu caminho e dando cria nas mulheres das cidades por onde passava. Com o tempo, por causa da valentia e até pelo nome, diziam por toda a região que Lamparina era o novo Lampião. Odiado por uns, amado por outros, mas temido e respeitado por todos.

Mesmo com o sucesso e a fama que já se espalhava pelo Brasil, uma coisa deixava Lamparina triste. A saudade de casa, do ‘Sêo’ Zé da Luz, da Dona Didinha e, lógico, da pobre Marilda era enorme. Mas nada se comparada à que ele sentia pelo fubá com macaxeira. Pilhou restaurantes, plantações e rebanhos inteiros durante sua jornada, só que nada era parecido com aquilo. Não era nenhuma paráfrase de Lulu Santos, mas “eu tô voltando pra casa”, disse ele pra si mesmo. E assim o fez.

Ao ouvir no rádio que as taxas de roubo, agressão e natalidade subiram 3000% de um dia para o outro, Dona Didinha intuiu que Lamparina em breve estaria de volta e tratou de preparar o manjar dos deuses com o qual seu filho há tempos sonhava. O rapaz mal chegou e já devorava dúzias e dúzias de porções do seu prato favorito, ao mesmo tempo em que ouvia por aí que um valentão vindo da capital chegou doido para ter com ele.

A notícia só animou ainda mais Lamparina, que acabou em apenas meia hora com os 130 quilos de macaxeira que sua mamãe lhe prepararia no período de um mês. Nesse mesmo instante, o valentão da capital entrava pela porteira do rancho, com o povo da cidade toda vindo atrás, prontos para assistirem a mais um massacre. Todo mundo sabia que aquele ali não daria nem pro cheiro.

E por falar em cheiro, assim que se colocou à frente do novo adversário, um barulho acossou a barriga de Lamparina e, por suas vias traseiras, um odor de urubu podre colocou à nocaute metade da população do Estado de Pernambuco. Um dos únicos que sobrou de pé era o tal do valentão, que fez um gesto chamando-o para a briga. Estava mais do que claro que um canalhinha como aquele não duraria um minuto nas mãos do até então sucessor de Lampião.

***

E agora? Quanto tempo que o coitado do valentão da capital vai durar nas mãos do implacável Lamparina? Estaria ele preparado para essa que seria a maior cagada da sua vida?

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segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Pequena Releitura

Não penso, logo insisto, não é mesmo?
E de tanto insistir, eis que uma hora surge a compreensão.

Tentativa e erro? Quem sabe... mas o importante mesmo é a descoberta. E por que não, uma auto-crítica em tom de confissão?

Por falar em tentativa, quem tenta ser ou fazer algo, simplesmente fica nesse eterno tentar, desviando-se do verdadeiro caminho de ser aquilo que se é.
Seria essa a grande tentação?

Pra que tentar ser engraçado, se o mais hilário e bem-humorado de verdade é o que vem da espontaneidade?
Pior ainda é tentar ser profundo e se deixar perder-se facilmente na superficialidade.

A graça, a profundidade, o sentido e a beleza, quando verdadeiras, não podem ser fabricadas.
Aos olhos de quem puder, souber ou quiser enxergar, essas coisas, como todas as coisas genuínas da vida, simplesmente são.

A Proposta?
Sejamos o instrumento daquilo que alguns chamam devaneios, outros inspiração ou, em alguns casos, até iluminação.
Mais sério e reflexivo? Só se for possível rir muito de tudo depois.

Daqui, pro que der e vier.

Deixemos sempre a mente fluir.
E lógico: continuando a não pensar e sem jamais deixar de insistir.

Estava à toa na vida, o meu amor me chamou...

... e então de repente descubro que não estava tão à toa assim. Embora às vezes as coisas pareçam sem lógica, no fundo tudo tem um sentido. Uma razão nada racional. Algo que se vê, se ouve, se sente. Mas não existem palavras para explicar. É algo que simplesmente vem e, se você não deixar levar, aí sim tudo fica vazio.

Mas o vazio não significa o nada, assim como o nada não quer dizer vazio. Basta saber ouvir aquela voz - aquela mesma que sempre grita lá no fundo da sua alma, querendo ser ouvida - e entender o que ela diz. Basta olhar pra dentro, enfrentar os seus fantasmas, principalmente aqueles que você mesmo criou. Basta tentar enxergar que se consegue ver. Então você entrará em contato com a força que age silenciosamente e, no seu fluxo, a impressão é que nada se faz e, ainda assim, nada fica sem ser feito.

Não se sabe quando, nem onde e nem como. O que se sabe é que simplesmente é. É a certeza de que, não importa o fim, tudo retorna ao princípio. Quando algo chega ao seu final, significa que muitas outras coisas estão apenas começando.

Seria esse o segredo da imortalidade? O segredo da vida?

Quer a resposta?

Bem, a resposta ninguém vai te dar. Pra quê passar a vida esperando um Salvador se a única pessoa que pode fazer realmente alguma coisa por você é você mesmo? A verdadeira mudança, a real e genuína transformação, só existe se parte de dentro. De dentro de você. É uma caminhada longa. E você vai saber que o caminho está certo quando ele segue pra dentro. Mude o seu mundo interior que o mundo todo se transforma pra você.

Você tem a vida, você vive! E, ainda assim, não percebe a dimensão deste milagre!

Um dia você vai descobrir que os opostos não são inimigos e nem eternos adversários. São apenas as duas partes de um todo. E uma parte não existe sem a outra. Como Adão e Eva, o bom e o mau, a alegria e a tristeza. Assim como o Yin e o Yang. Nada é tão ruim que não tenha seu lado positivo. E nada é tão plenamente bom que não tenha também os seus efeitos colaterais. Pra que tantos conflitos se tudo nasceu em tão perfeita harmonia?

Fatos são fatos. Frios. Imutáveis. E, sobretudo, inevitáveis. A diferença está em como olhamos pra eles, como reagimos. Bons ou ruins? Alegres ou tristes? Que seja! Tudo vale a pena se a alma não é pequena. Não há nada tão descomunal que não possamos compreender. E não há nada tão insignificante que não possamos tirar algum aprendizado.

Você um dia também vai perceber que a linha que separa o que você chama de sonho do que ousa dizer que é realidade é muito, muito tênue. Isso se ela realmente existir. E que os seus limites é você mesmo quem cria. Tanto é que sempre que ousa ultrapassar um deles, você descobre que pode ir ainda mais longe. E sempre que isso acontece, vem aquela sensação, mesmo que por milésimos de segundo, de que você é muito mais do que imagina, que pode ir simplesmente aonde quiser. Então, você tem a certeza de alcançar o que parece inatingível, mas que, na realidade, sempre esteve e sempre estará ao seu alcance. Bem debaixo do seu nariz.

Cada um tem a sua própria verdade e ela está aí mesmo, dentro de você.

Pode até parecer ridículo, mas um dia você também vai entender o que antes absurdo: o tempo passa, volta e ainda não começou; ele não existe e, mesmo assim, é infinito.

Pois é. Só sei que foi assim.
Ainda quer a resposta?

Essa é uma descoberta que só cabe a você. Aí, quem sabe, você possa enxergar e vivenciar uma existência mais completa, harmoniosa e em sintonia com o todo. O mesmo todo que existe em você, em mim e em cada um de nós. Que nos une, nos faz frágeis e ao mesmo tempo, poderosos; que nos faz sentir e ter a certeza do amor incondicional, da unicidade, do mais perfeito equilíbrio. E então você compreende que a vida é uma coisa que não foi feita para ser explicada. Foi feita para ser vivida.

Então você finalmente aprende que o controle não é algo a ser conquistado, mas sim uma coisa da qual precisamos saber abrir mão.

Essa sim é a mais verdadeira liberdade.

E o dia que chegar a essa compreensão, não espere que alguém confirme para você. Você simplesmente vai saber.

***

Importante: Este texto foi originalmente postado em 1º de fevereiro de 2007 no meu antigo site, recolocado aqui mesmo nesse atual blog em 5 de abril de 2007. E de vez em quando vale muito a pena rememorar esse pensamento que, de tão espontâneo, é o melhor reflexo do que se passa "aqui dentro". Tanto é que, toda vez que leio, me surpreendo. Que surpreenda você também.