segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Lamparina, o Rei do Cagaço – Parte II

Você que já acompanhou a 1ª parte da história de Lamparina e ficou aperreado para saber se o valentão da capital vai dar mesmo pro cheiro e quantos segundos mais ele vai agüentar ficar de pé, além de conhecer os efeitos maléficos de fubá com macaxeira consumidos em excesso, chegou a hora de finalmente se emocionar com o destino desse que poderia ter sido o maior cabra-macho do sertão. Só que, ao contrário de Lampião, com Lamparina não tem essa de Virgulino: o negócio é ir direto ao Ponto Final.

***

Lamparina sentiu uma pequena dor vindo da barriga, que lhe apertava até as mais baixas extremidades, mas isso não o impediu de já começar a espancar o adversário. Não se sabe se era excesso de coragem ou excesso de burrice, mas o tal do valentão resistia e continuava provocando nosso anti-herói, que fazia caretas e mais caretas devido a uma cólica a prova de qualquer dosagem de Atroveran e que o fazia suar em bicas. Era tanta água que escorria de seu corpo que daria para acabar com toda a seca do Nordeste e ainda transformar o Saara em um pântano.

Àquela altura não escondia a irritação. Já sem 31 dos 32 dentes da boca e com os olhos mais inchados que os de Rocky Balboa juntando as lutas contra o Apollo Creed, o Clubber Lang e o Drago, o danado do valentão da capital insistia em levar mais tabefes. Depois de desferir um ‘uppercut’ que atirou o coitado do inimigo 200 metros para longe, não agüentou mais a revolução intestinal e sentou-se sentindo pela primeira vez o que os outros chamavam de dor. Apertava a barriga com sua força descomunal para apaziguar, rezando para que aquele energúmeno batesse as botas de vez e, enfim, correr para o banheiro.

Passados 10 minutos, quando o povo já se preparava para ir embora – e Lamparina, pra despejar todos aqueles anos de macaxeira com fubá acumulados fossa abaixo – um cambaleante valentão da capital, com o pé frouxo de múltiplas fraturas e os braços em carne-viva, ressurge vomitando todo tipo de provocação, finalizando com um “Vem pra riba se tu é macho, seu casca de ferida frouxo da porra!”

Com toda a raiva do mundo impregnada em seu ser, Lamparina fechou os olhos e ficou da cor do diabo, contraindo todos os músculos o corpo. A contração fez com que, tal qual um incrível Hulk avermelhado, as roupas rasgassem se transformando em trapos, sobrando só a calça intacta (pelo menos por enquanto). O povo apavorado nunca tinha visto o ‘hóme’ tão bravo. O que dizer então do valentão da capital, que tremia igual a uma vara verde? Lamparina também tremia, mas por causa da sua colossal contração muscular. Tremia tanto que causou o primeiro terremoto em território brasileiro. Até o barbudo do Luis Inácio teve que se esforçar para manter-se de pé lá em Brasília...

Naquele exato momento as equipes de TV de todo o Brasil surgiram de todos os cantos para mostrar o epicentro do maior abalo sísmico da história da América Latina, mas ao chegarem ali, tomaram conhecimento do histórico de Lamparina e de tudo que se sucedera até ali. O Globocop, o Águia Dourada e até o dirigível do Galvão Bueno sobrevoavam o lugar. Em questão de segundos, todos os televisores do País conheciam a trajetória do filho do ‘Sêo’ Zé da Luz e de Dona Didinha. Finalmente o sonho deles em ver o progenitor famoso estava sendo realizado. Quem sabe até o chamariam para participar do próximo Big Brother? Ou pelo menos para lutar na lama com o Frotinha em uma ressuscitada Casa dos Artistas.

Enquanto sacudiam com o incessante tremor de terra, todas as câmeras, depois de mostrar o coitado do valentão da capital escondendo o rosto de tanto pavor, focavam no rosto do raivoso Lamparina. A sua potente contração muscular havia chegado ao ápice dos ápices, tanto é que apertava os olhos fechados com força sobrenatural. De repente, os olhos de Lamparina se abriram assustados, o terremoto imediatamente cessou e... ‘blosh!’

Uma das câmeras flagrou uma pasta marrom que vazava pela boca da calça. “Seria o chocolate no bolso de Lamparina que não resistira às intempéries do sertão nordestino?” era o que o mais desavisado ali se atreveria a imaginar. O silêncio era total. Ninguém acreditava que aquilo pudesse estar acontecendo. Sem ousar nem respirar, Lamparina estava paralisado, mas como não era muito chegado a exercícios de apinéia, logo respirou fundo, relaxando o até então resistente cóccix e... ‘blosh!’, ‘blosh!’, ‘blosh!’... ‘blooooooooosh!’.

O que se via era um grande mar de bosta liquida com Lamparina, como uma ilha, paralisado no centro. O silêncio só foi quebrado quando o valentão da capital destapou os olhos e, ainda incrédulo, resolveu se aproveitar da situação, erguendo os dois braços e abrindo um sorriso banguela em direção às câmeras. O povo explodiu em festa, carregando nos ombros o que agora era anunciado em rede nacional em todas as emissoras, como “o maior cabra-macho do nordeste!”. Escutar isso fez as pernas de Lamparina amolecerem e, literalmente, o fizeram afundar na merda.

“Lamparina, Lamparina
Cabra-macho sim sinhô
Se num dia ele é arretado
no outro é um monte de cocô”


Dona Didinha e ‘Sêo’ Zé da Luz olharam pesarosos para o outrora orgulho da família e depois seguiram a carreata que partiria dali para o centro da cidade, saudando o valentão da capital. Em poucos minutos o até a pouco superlotado rancho onde cresceu estava vazio. Com o resultado daquele dilúvio diarréico até debaixo da língua, tal qual Biff Tanen afogado em esterco na triologia ‘De Volta Para o Futuro’, Lamparina levantou a cabeça até então submersa por aquela imundície, olhou para o lado e conseguiu até esboçar um sorriso: “Pelo menos a gente tem um ao outro, né Marilda?”. Então o valentão da capital surgiu assobiando na porteira e a sua cabrita de estimação – e por que não, o grande amor da sua vida – partiu dali com ele sem sequer olhar para trás.

Quem diria que, assim como Sansão ao ter os cabelos cortados por Dalila, a sua maior fonte de poder o levaria à total e completa ruína?

Aquele homem foi do céu ao inferno em questão de segundos, foi exposto ao ridículo diante de milhões de telespectadores no país inteiro e foi abandonado até pela própria cabrita.

Talvez seja justamente esse o segredo dos grandes homens da história da humanidade. Porque mesmo diante da mais brutal das adversidades, nada foi capaz de tirar-lhe a majestade, pois a partir daquele dia, ele ficaria para sempre conhecido como ‘Lamparina, o Rei do Cagaço’.

4 comentários:

Anônimo disse...

"Cólica a prova de qualquer dosagem de Atroveran", guardarei essa frase, já que a entendo tão bem...
Gostei do Lamparina, acho que ele bem pode aparecer mais vezes por aqui, afinal, "quem é rei nunca perde a majestade" (ou algo assim).
Amo!

Unknown disse...

Triste fim do 'Poliporco Lamparina"
Fazer o quê?Todo Rei um dia perde a majestade.:)
Boa história!É isso aí!
Parabéns!

Junkie Vatapa

Unknown disse...

Haha,só agora prestei atenção que a frase correta é: 'Quem é Rei nunca perde a majestade'.

Desculpe o engano.Haha

Anônimo disse...

Tu és ótimo em hiperbolia, hein?
Era eu quem estava fazendo a cobertura do bloooooosh, em algum dirigível...haushuhas

Pena que a majestade seja apenas um título...fiquei com dó do rei do cangaço, ó!!!

hasuahsuah

abçs,

Luca