sábado, 14 de abril de 2007

Sinal Iminente do Final dos Tempos

Tudo começou quando soube por uns amigos, enquanto jogava futebol (?), que os feirantes agora estavam proibidos de gritar na feira. Quer maior absurdo que esse? Pois fui lá conferir e lá estava a notícia. Imagine só ir à feira e não escutar alguém gritando “Mulher bonita não paga, mas também não leva!” (pensamento gentilmente roubado de Renato Pazikas). Que graça vai ter ir à feira sem escutar “Ói o mamão! Ói o mamão!”?

Tudo bem, tem o pastel de feira que sempre vai ser o melhor do mundo, independentemente de qual feira for. Só que isto também faz pensar. Por mais que os pasteleiros – sejam eles chineses ou não – de todo resto do mundo se esforcem e se aprimorem na arte de fazer pastel, nunca conseguem realizar algo que se compare aos pastéis de feira. Nem se o caldo de cana for grátis, o que alguns pasteleiros de péssima qualidade gastronômica se utilizam pra passar pra frente o seu subproduto.

Será que nas entrelinhas dá pra enxergar o desastre que pode surgir a partir de tudo isso? Com os gritos proibidos, a principal força motriz do feirante e da própria feira como instituição nacional vai ser fortemente abalada. E, querendo ou não, essa nova realidade irá afetar os grandes pasteleiros alquimistas – pois só eles têm a fórmula secreta do Bom Pastel em uma arte milenar passada de pai para filho – causando, por fim, um arrebatador efeito dominó.

Para compreender a totalidade da questão, voltemos à China há milhares de anos. O imperador mongol Ghengis Khan (será que é assim que se escreve?) era impiedoso e já dominava quase todo o continente asiático, restando apenas a imensa e passiva China. Combates sangrentos, vitórias surpreendentes e, cada vez mais, o exército mongol chegava mais próximo ao objetivo. Quando já se aproximavam de Pequim para desferir o golpe de misericórdia, Mr. Khan montou acampamento, notando o cansaço de seus principais homens, e também para definir a sua estratégia de invasão.

De repente, uma manhã, Ghengis Khan despertou com um aroma que entorpeceu seus sentidos e rapidamente removeu a cabra de seu colo – naquele tempo, longos tempos de guerra e ausência de mulheres levariam o homem ao desespero, ou então a antropofagia (do grego “comermo-nos uns aos outros”) e por isso recorriam às cabras ou outros animais passivos.

Fungando sem parar, seu super-olfato detectou que o delicioso cheiro de óleo velho e requentado vinha do sul, exatamente a mesma direção do principal acesso à grande Pequim.

De imediato, Khan chamou seus dois principais generais – que se entretinham com uma lebre e uma tartaruga, respectivamente – e combinou que iriam disfarçados até o local de origem daquele misterioso e atraente cheiro. Ao chegarem, se depararam com um chinês magrelo que sacudia uma espátula em uma imensa bacia de metal repleta de uma estranha massa mergulhada em um gorduroso óleo, e com um fogareiro embaixo. Ao perceber a chegada dos forasteiros, o Chinês lançou um olhar de desprezo para os três e disse:

- Tlês pastel, tlês leal!

Khan coçou o cavanhaque sem entender nada. O Chinês prosseguiu:

- Tlês pastel, tlês leal!

Ainda sem entender o que o Chinês dizia, ainda mais porque se referia a uma moeda que seria criada milênios depois no Brasil, Khan se ajoelhou e implorou pelo segredo daquilo que, na placa ao lado do Chinês, ele lia como “PASTEL 1 LEAL CADA”. O Chinês se irritou e gritou:

- O nome é só Pastel, calamba! Um leal é o pleço! Vai complar ou não?

Então, em um ato de desespero, o até então guerreiro frio e implacável se pôs a chorar e cometeu seu único erro em décadas de batalhas e conquistas: revelou que era o grande Ghengis Khan. Claro que o chinês não acreditou e, então, para provar quem era e conseguir o segredo, levou-o até o acampamento de seu imenso exército. Ainda sem acreditar, o Chinês fez Khan levá-lo de volta à Mongólia, pra ter certeza que aquele grande homem com um chapéu de metal não estava de “picaletagem”. E assim foi feito.

Já em território mongol, Ghengis Khan deu tudo do bom e do melhor ao Chinês, que depois de muitas perguntas e desconfianças, se convenceu de quem ele era realmente. Confiante, Khan finalmente perguntou o segredo. O Chinês, meio sem jeito, coçou a cabeça e respondeu:

- Tem um plima muito gostosa que mandalam pla Coléia polque eu queler semple caçar peliquita dela. Leve-me até lá que te conto o segledo do pastel.

Apesar de contrariado, Ghengis Khan aceitou a condição do Chinês e mandou que uma comitiva o levasse para o litoral nordeste da China, onde uma embarcação com destino à Coréia o estaria esperando. Aproveitando a oportunidade, o Chinês pediu gentilmente que levasse junto seus instrumentos de preparo de pastel, já que seu amor proibido adorava essa iguaria e, em troca, lhe daria a tão sonhada "peliquita".

O barco partiu. Mas uma grande tempestade desviou a pequena embarcação do Chinês e de sua pastelaria marítima da rota programada para o extremo Sul, onde alcançou imensos blocos de neve e gelo, mesmo local que hoje conhecemos como Antártida. Com um “flio de lascar”, o Chinês remou sem parar pra se aquecer e, rapidamente a paisagem mudou. Belas praias e muita gente pelada e de pele vermelha correndo pelas areias (descrição feita pelo próprio Chinês em um misterioso pergaminho encontrado por um padre jesuíta séculos mais tarde). Não era a tão sonhada "peliquita", mas aquilo ali parecia muito tentador.

E assim, muito antes de Colombo chegar às Américas ou Cabral aportar em Porto Seguro, o Chinês chegou a uma terra que tinha muito “Pau Blasil”. Uma terra onde descobriu também óleos gordurosos de tão péssima qualidade que tornaram o seu pastel ainda mais delicioso, muito utilizado em grandes celebrações indígenas onde os pajés, aos berros, ofereciam o melhor de suas colheitas aos deuses. Festa que muito tempo depois daria origem à feira que nós conhecemos hoje em dia.

Moral da história: sem grito, não existe feirante. Sem feirante, não existe feira. E sem feira, não existe pastel de feira. Sem pastel de feira, existe revolta, desordem e, conseqüentemente, o iminente final dos tempos.

obs: realmente, uma bela lição de História.

5 comentários:

Anônimo disse...

Acho que deveria se mexer e evitar a revolta e o caos. Sei lá, de repente orgamizar um grupo de resistência entre os feirantes, que como armas usariam maçãs, abacaxis, e outros alimentos do gênero...
Lindo. Tão bestinha...
Amo!

Anônimo disse...

Deus! Onde a pessoa vai parar?!!
Menino, agora bateste todos os "lecodes"! Depois me conta o que tomaste no café-da-manhã antes de escrever essa obra insistente. Provavelmente foi um desses pastéis de feira alucinógenos!!
Beijo

Anônimo disse...

Ai, ai...não resisti e acabei vindo visitar seu blog, Marcelo!
Devia desconfiar depois do Pero Vaz Anão Doente que leria algo do gênero, pra pior (no bom sentido!)

Mandou bem!
Beijokas
E cuida da minha loira!

Raquel Marques Coração Caetana dos Reis

Unknown disse...

Putaquepariu! Você acha que merece comentario melhor que esse?
Talvez mereça pelo fato de instigar minha imaginação: Em que momento fecal vc escreveu tamanha afronta a História... rsrsrsrs...

Abs, seu lixo

Kátia disse...

Kabessa Kabessa adolei a histolia do pastel.Tadinho dos feirantes nem gritar que "moça bonita não paga,mas também não leva" eles podem mais.Ai ai isso me deu uma saudade dos pastéis dos japinhas daí(coisa que me lambuzei a comer semana passada,quando fui rapidamente a passeio).Olhe,sempre que dá venho dá uma lida em seus textos.Continua voraz em escrevê-los e a destilar esse humor ácido nos mesmos.
Bão dimais carai! a peliquitta da plima ficou envaidecida,pois o cara saiu de tão longe para deliciar tal iguaria.Só você mesmo.
Assinado:**Eu** em múltiplas facetas´**Kátia**Junkie**leoa***